Zac abre o jogo e conta sobre carreira, família e projetos

Por Jonas Fachi

Foto de abertura: divulgação

No final de janeiro foi anunciado a House Mag anunciou os principais DJs brasileiros de 2022 por meio da votação popular no Top House Mag DJs Brasil. A votação ainda considerava os números das principais plataformas, sites de

venda e streaming. Apesar de ser uma categoria para artistas conceituais ou da cena underground, os números de Zac são equiparáveis a de artistas comerciais, tanto é que figurou na 8ª posição do ranking geral, ficando à frente de gigantes da cena chamada de mainstream.

Com todo merecimento, sua eleição foi validada por seus pares e pela enorme base de fãs que o seguem. O DJ e produtor deu um salto na carreira pós pandemia se tornando residente de dois dos três melhores clubes do país. Estamos

falando do Laroc e do Warung Beach Club, onde ele apareceu com destaque e horários nobres para as duas principais cenas do Brasil.

Nessa entrevista, ele nos dá sua visão de como está a cena brasileira, a sua virada de chave na pandemia e, claro, sua vocação como professor e líder de uma comunidade de novos produtores. Confira abaixo!

 HM – Olá Zac, tudo bem? Primeiramente, parabéns pela conquista do top #1 artístico alternativo no Top House Mag DJs Brasil 2022. Como está se sentindo?

Eu me sinto muito bem, bastante surpreso com o ranking, pois realmente é algo que eu não esperava. Existem muitos artistas que poderiam estar no meu lugar, mesmo assim me sinto feliz, isso é um sinal que muitas pessoas acreditam na minha música e na maneira como conduzo meus sets. Por mais inesperado que foi, me sinto feliz, pela minha família, pelos meus fãs e todos que gostam do meu trabalho. 

HM – Em seu post do Instagram de agradecimento, você fala que não se considera melhor do que ninguém e que outros poderiam estar nesta mesma posição. Como você tem visto o nível da cena nacional atualmente?

O nível da cena é altíssimo, vivemos um ótimo momento no Brasil. Temos muitos artistas de diversos estilos em destaque e que merecem muito respeito. Se você parar para analisar, hoje o Brasil é um grande celeiro em todos os estilos da dance music.

Sou um DJ que pesquisa muito e gosto de ouvir todos os estilos, receber influências e esse é o período aonde mais tenho ouvido e tocado músicas de brasileiros. Tenho uma parada interessante que vejo é que a música eletrônica no Brasil, atualmente, segue um padrão um pouco mais internacional, não está mais tão focada em estilos criados aqui dentro do país, acredito que a cena está seguindo a tendência mundial mesmo.

HM – Ficou claro no ranking que os melhores colocados foram os que estão conseguindo se destacar tanto como DJs, quanto no estúdio, que são dois mundos bem distintos. Quão desafiador é conseguir se destacar nessas duas frentes?

Realmente são mundos distintos, trabalhos completamente diferentes, mas, ao mesmo tempo eles se encontram, se cruzam de alguma maneira. No meu caso, pesquisar e ouvir músicas de outros produtores acabam me inspirando a fazer as minhas próprias músicas, trazendo novas ideias. O desafio é conseguir fazer músicas boas que caibam no meu set, pelo menos pra mim.

Encontrar uma rotina para fazer as duas coisas com excelência é um ponto importante. É necessário muito empenho e organização para nada ficar pendente. Eu adoro ouvir muita música nas primeiras horas do dia e depois de receber toda essa influência de outros artistas e organizar elas em playlists. Vou produzir as músicas que não encontrei. Essa é a chave: eu faço as músicas que não encontro no Beatport. 

HM – Hoje você é residente de dois dos três melhores clubes do país pelo ranking da House Mag. Como conciliar a agenda e atender a demanda dos clubes?

Esse é o tipo de problema bom de resolver. Eu tenho a sorte de ter a Alliance Artists como agência de bookings e contar com eles para organizar o calendário. Nosso planejamento é anual e o objetivo é atender todo mundo da mesma maneira. Lógico que os clubes que sou residente têm a preferência, porque eles são a família, tá ligado? E a família sempre vem em primeiro lugar. Graças a esses clubes e pessoas, hoje vivo a melhor fase de toda a minha carreira e sou eternamente grato por tudo isso.

Os clubes que sou residente são os melhores do país, e quem sabe do mundo, eles me dão a oportunidade de aprender e exercitar meu feeling em diversos horários e situações que fazem sair da zona de conforto, é sempre desafiador, mas, ao mesmo tempo, excitante. Eu gosto de sair da caixa.

Foto: Lado B

HM – Tanto no Warung, quanto no Laroc, você tem se apresentado frequentemente como DJ de transição, entre o warm up e o artista principal, o que te possibilita uma grande visibilidade, mas, também, muita responsabilidade nesta condução, correto?

Correto, como disse acima, isso é desafiador, mas, ao mesmo tempo tenho muita felicidade em poder mostrar a maneira que acredito ser correta para um residente. Isso com certeza da uma grande visibilidade, mas ao mesmo tempo eu tenho a

responsabilidade de saber qual é o meu trabalho em cada ocasião.

Quando vou fazer o warm, tento estudar o artista que vem depois e não utilizar os mesmos timbres, estilo e texturas que ele vai tocar depois, gosto de dizer que o warm up não é somente tocar devagar, mas evitar o máximo tocar as texturas que vem depois.

Quando faço uma transição de um artista internacional para outro, por exemplo, eu tento segurar a pista para que as pessoas se divertem enquanto a próxima atração não chega, é simples. O closed set possibilita ter a liberdade para tocar coisa que ainda não foram tocadas e as mexer com sentimentos que ainda não foram despertados naquela noite. O final sempre curto não tocar tão rápido, sigo uma tendência de ir acalmando para que as pessoas possam ir tranquilas para suas casas.

HM – Podemos dizer que a pandemia foi uma virada de chave na sua carreira, certo? Conte-nos como foi crescer em meio a um momento tão difícil.

Você tocou num assunto bacana, pois quando veio a pandemia, na minha vida aconteceu muitas coisas, junto com a pandemia veio o câncer da minha namorada e tivemos que mudar de cidade para fazer o tratamento (já está tudo bem com ela).

Aquela foi uma situação que mexeu muito comigo, pois eu estava com problemas como todos os artistas pelo fato da pandemia nos impossibilitar de fazer shows, mas a Bibi estava numa situação muito mais complicada do que “não ter trabalho”.

Vivendo cada dia como se fosse o ultimo eu decidi que queria fazer algo pra mudar a vida das pessoas, que realiza-se sonhos. Foi ai que comecei dar aulas gratuitas para passar o tempo e interagir com a galera. Das aulas veio a comunidade, da comunidade a gravadora e se passaram dois anos onde dei mais de 100 aulas gratuitas, junto com uma galera criei o Fluxo, o Warung School, tive muita fé em Deus e todo tempo acreditei que fazer música e ensinar as pessoas a fazer o mesmo iria fazer a diferença no futuro. Eu queria apenas que quando tudo voltasse ao normal o Brasil fosse um país melhor, com mais educação.

HM – A Fluxo passou então de uma comunidade de compartilhamento de conhecimento para uma gravadora. Fale mais dos artistas que você descobriu e ajudou nesse processo.

São dezenas de pessoas das mais diversas idades e etnias que foram meus alunos ou tiveram algum aprendizado comigo, eu acredito mais de 500 artistas espalhados por todo Brasil tiveram contato com as aulas gratuitas do Fluxo.

HM – Recentemente você tocou ao lado de Hernán Cattaneo no seu clube formador, a Amazon de Chapecó. Conte-nos um pouco mais sobre essa noite e de como é ter proximidade com uma lenda como ele?

Estar perto do Hernan é algo magico, ele deixa marcas antes, durante e depois da festa. Uma vibe positiva que contagia o coração sabe? Eu tive a honra de abrir a pista, começar às 9h da noite e preparar o terreno pra ele ate às 01h. Depois disso ele tocou até às 8h da manhã. Tentei passar o máximo de tempo assistindo e aprendendo como ele conduz, mixa e executa todas as tarefas técnicas de um DJ.

Uma curiosidade que antes da festa fiz um som inspirado no que ia acontecer, toquei a faixa na noite e depois do evento enviei a track pra ele e recebi uma responda sensacional. “É isso que eu quero ouvir”. Hernan não é só um grande DJ, ele é uma grande pessoa que inspira e todas as suas atitudes, não somente em cima do palco ou no controle dos ‘equipos’, ele é o Hernan porque é grande dentro e fora da cabine.

HM – Você participou da construção dessa cena no oeste catarinense desde os primórdios. É sabido de toda dificuldade logística e financeira dos interiores, que você toca bastante. Quão importante é construir cenas diversas em um país como nosso?

A cena regional é o reflexo dos DJs que estão ali. Isso é a base! Nada aconteceria sem os DJs locais e ter uma cena consistente é trabalho desses artistas. A importância disso é gigante, porque as cenas, os núcleos são os que fomentam o trabalho na base, onde os gringos, normalmente, não chegam e nem mesmo os grandes festivais. Como chega a música boa nesses locais? Através dos DJs e núcleos de cada cidade.

O oeste catarinense não é uma das melhores cenas do Brasil por acaso, não fui eu, mas, sim, diversos DJs que trabalharam durante muitos anos para que as pessoas entendessem e soubesse apreciar a arte da discotecagem.

HM – Você tem se apresentado com frequência na Argentina e Chile. O que tem visto de diferenças e semelhanças com o Brasil nessas duas importantes cenas vizinhas?

São culturas muito parecidas. Argentina é o país que mais toco depois do Brasil, já faz alguns anos que viajo para tocar lá e isso tem crescido a cada tour. O Chile está indo pelo mesmo caminho, vou duas vezes por ano e a cada vez o número de pessoas aumenta. 

A semelhança é a pista calorosa e alegre como aqui do Brasil, a diferença é que são pais pequenos e com menos oportunidades para as pessoas que estão por lá, então, você sente que eles são muito gratos por você ter saído da sua casa para estar tocando lá. Quanto menos condições o povo tem, normalmente, a gratidão é maior.

HM – Vimos o anúncio das suas próximas datas e está incluso apresentações fora da América do Sul, serão suas primeiras datas atravessando o Atlântico, certo? Como está a expectativa?

Não posso crer que minha música atravessou o mundo, mas a verdade que sim, pela primeira vez na vida vou tocar fora da América Latina. A turnê começa em Bali, na Indonésia e tem possibilidade de passar pela Índia. Saindo da Ásia, tenho dois shows confirmados na Europa, o primeiro na Dinamarca, o segundo em Portugal. Estamos trabalhando para acontecer em Londres também! A expectativa é ótima, me sinto bem para representar o Brasil nessa jornada. 

HM – O que podemos esperar de seus próximos lançamentos? Obrigado e parabéns mais uma vez.

Tenho muitas faixas prontas e estou testando-as em diversas possibilidades, a minha intenção e fazer meu primeiro álbum. Entre meio esse disco não sai, tenho colaborações e remixes muito bacana por vir. O que sinto quando estou dentro do estúdio é que minha música está cada vez mais introspectiva e progressiva, atualmente ela segue por esse caminho.

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