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Por onde anda DJ Patife? Wagner Ribeiro mostra que nunca é tarde para recomeçar e seguir seus sonhos

Wagner Ribeiro, ou DJ Patife, como é popularmente conhecido, marcou época na música eletrônica na década de 90 e início dos anos 2000 levando o drum ‘n’ bass brasileiro para diversos países ao redor do mundo. 

Em 1999, começou a apresentar seu programa ‘’Bassline’’ na Rádio Energia 97, produziu um remix de ‘’Só Tinha Que Ser Com Você’’ do Tom Jobim com Elis Regina que fez parte da trilha sonora da novela ‘’Um Anjo Caiu Do Céu’’ da TV Globo. Além disso, Patife já foi premiado como o melhor clipe de música eletrônica com o remix de ‘’Sambassim’’ de Fernanda Porto em 2003 pela MTV e em 2007 ganhou o prêmio Tim de melhor CD de música eletrônica do ano com o disco ‘’Na Estrada’’.

Hoje, ele ainda se apresenta nos decks, porém concilia a carreira de DJ com a paixão pelas estradas. Isso mesmo. Wagner também é caminhoneiro em Portugal e roda em outros países do velho continente.

Sem mais delongas, veja na íntegra a entrevista realizada com uma verdadeira lenda da música eletrônica.

1) Olá, Wagner! É um imenso prazer falar com você, obrigado por participar conosco!

R: Quem agradece sou eu e feliz pela lembrança e o convite!

2) Você passou por mais de 100 países como DJ e levou o drum ‘n’ bass brasileiro para o mundo. Qual a sensação de ter vivido isso e de ser um dos DJs mais importantes da nossa história?

R: A sensação é indescritível. É difícil encontrar palavras que expressem tal sensação, pois tudo que vislumbrei em minha mente quando pensei em ser DJ, era aprender mixar e quiçá, um dia tocar numa cabine de som em algum club. Resumindo, vivi e vivo muito mais do que imaginei, por isso, me sinto realizado e realização pessoal é algo maravilhoso.

3) A paixão pelo drum ‘n’ bass e pela música sempre caminhou com você? Como foi o processo de se tornar um DJ e produtor naquela época?

R: Até onde minha consciência pode alcançar, lembro sempre estar envolvido com música. Fosse gravando fitas-cassetes para o meu pai, ou na rua onde morava, sempre tinha algum carro tocando algo que me chamava a atenção. Ouvia sempre os programas de rádio, e por muitas vezes dormia abraçado com o mesmo.

Foi um longo processo pois mesmo trabalhando já aos doze anos, o dinheirinho que eu ganhava não era suficiente para comprar discos, equipamentos e ainda frequentar as matinês e bailes de equipe de som que eu curtia. 

Entretanto o amor e a dedicação para com a música era tão grande que nada era obstáculo, e isso aprendi quando dei meus primeiros passos com o Hip-Hop, ali foi minha iniciação como DJ. Cheguei a participar com apenas quinze anos do grupo Fatos Reais, depois fiz dezenas de bailes de casamento, formaturas, aniversários, desfiles e uma variedade grande de diferentes eventos.

O Drum ’N’ Bass entra na minha vida na metade dos anos 90 se não estou enganado, e assim como o Rap, foi amor à primeira “Ouvida” rs rs…

Produtor eu não sou. Faço batidas, edito daqui e dali, mas até hoje não me considero produtor musical. 

Essa fase começou no fim dos anos 90 com a insistência e muito incentivo do Tibor, Mad Zoo, Ramilson Maia, Xerxes de Oliveira, os irmãos Drumagick e meus managers. Não gostava de ficar no estúdio, achava chato, repetitivo, sem dinâmica e tudo muito complicado. Só que logo eu comecei a estudar e entender melhor aquele universo, a coisa mudou de figura.

4) Desde criança você sempre gostou de veículos pesados e de pegar a estrada. Quando foi que a chave virou e você decidiu largar a cabine dos shows para assumir a cabine dos caminhões?

R: Que fique claro o seguinte: Não larguei a cabine de som e os shows. Apenas reduzi bem o número de apresentações e tenho o privilégio de escolher onde quero tocar. 

Ainda na infância, meu discurso era: “quando eu crescer serei motorista de ônibus de viagem da Itapemirim”. 

Porém, aos dezenove anos (1997) eu já estava em Londres correndo atrás da Jungle Music/Drum ’N’ Bass e o foco ficou nisso até fevereiro de 2020.

Estava numa tour de 8 datas na Austrália e 5 na Nova Zelândia quando começou as restrições em aeroportos e tudo aquilo que vivemos com a crise sanitária.

Assim, após voltar a Portugal, pensei muito no que iria fazer e o primeiro passo foi voltar aos estudos os quais terminei o ensino médio e junto a isso diversos cursos online.

Porém, certo dia, assistindo vídeos no YouTube de motoristas que acompanho há alguns anos, meu filho mais velho entrou no quarto e ao ver aquilo que eu assistia perguntou o por que eu não tentava o mercado de motorista já que eu gostava tanto. Ele completou dizendo: Você ainda pode Daddy, ainda não morreu!

Aquilo reverberou em mim alguns dias e fui pesquisar escola, cursos e como era a demanda na Europa naquele momento. Para minha surpresa, havia e ainda há uma falta enorme de motoristas no setor, e assim, durante dezessete meses completei o processo de formação e cursos necessários.

5) Hoje você ainda mora em Portugal, certo? Há planos de vir com a família para o Brasil e realizar esse sonho de desbravar as rodovias daqui?

R: Sim, meu endereço é Portugal, mas nunca estou lá rs rs rs

Esse é o foco. A grande realização pessoal será servir e trabalhar no Brasil como motorista, nem que seja free lancer ou que faça algumas vezes para “matar a lombriga”. 

Porém no transporte de passageiros, e quem sabe na empresa do coração ou alguma outra que eu tenha afinidade. Para trabalhar com caminhão no Brasil é preciso muita coragem e força. Não acho que é meu perfil.

6) Você ainda faz alguns shows por aí. Conta pra gente como é feita essa rotina e logística de dividir duas profissões que exigem tanto tempo e dedicação.

R: Com o verão na Europa, o setor de transportes reduz consideravelmente o fluxo. Assim, muitas empresas concedem férias entre julho e setembro. E nessa altura eu aproveito para tocar nos festivais e outros eventos. Porém, conto com a flexibilidade do meu gerente que consegue marcar minhas folgas quando tenho apresentações em outras épocas do ano. 

7) Quais são os principais artistas que você tem escutado hoje enquanto está na estrada? Você costuma ouvir eletrônico?

R: Isso é intrigante, mas ouço pouco música eletrônica. Ultimamente, ouço muito samba antigo, material que não conhecia dos anos 50/60 & 70. Amo música romântica, diariamente toca Tim Maia aqui na cabine, Anita Baker, Alicia Keys, Marisa Monte, Sade e por aí vai.

8) Você e o Marky eram próximos no boom do drum ‘n’ bass e na época que estavam no auge? Ainda mantêm contato?

R: No início dos anos 2000 estávamos lado a lado bem dizer. Após 2007 fui morar em Brasília e vivenciar outras coisas. Desde então, é raro encontrá-lo. Especialmente após 2016 quando mudei para Europa. Mas hora ou outra falamos ou nos encontramos em clubs e festivais. Entretanto, meu amor, carinho, gratidão e respeito por ele é enorme. Devo confessar que tenho péssimo hábito em manter contato constante com as pessoas. Há quem fique triste comigo, amigos, familalires sempre reclamam que eu não ligo, não enviou mensagem etc… Possam todos me perdoar, aqui no fundo do peito estão todos vocês, sempre!

9) O remix de ‘’Sambassim’’ é um marco na sua carreira. Qual a importância dessa música para você enquanto profissional e pessoa?

R: Se não fosse Sambassim e a Fernanda Porto entrar na minha, nada disso teria acontecido. Ainda assim teria me envolvido com produção, participado de outros remixes e produções, mas não alcançaria tanto reconhecimento como rolou com Sambassim. Essa música abriu as portas do mundo tanto para mim quanto para a Fe Porto dentro e principalmente fora do cenário Drum ’N’ Bass

10) O que a vida como caminhoneiro te proporciona que a vida como DJ não oferece?

R: A realidade da vida, o crescimento pessoal e a valorização da mão de obra das pessoas. A vida como DJ tem diversos momentos que também me oferecem isso, mas como DJ sou muito “paparicado e bajulado”, já aqui nas cargas e descargas, ninguém faz ideia que sou DJ ou uma figura com certo reconhecimento no cenário musical.

Aqui “apanho” diariamente, passo por situações desagradáveis e tenho a oportunidade de conhecer cada vez mais parte da natureza humana que não se faz presente na vida DJ da mesma forma que na vida de motorista.

Ainda que desagradável por vezes, essa experiência é maravilhosa porque me traz diariamente a bagagem que eu preciso para o meu futuro projeto a médio e longo prazo que está totalmente ligado ao relacionamento humano, cura, terapia, palestras, musicoterapia  etc.

11) Muito obrigado, Wagner! Foi um imenso prazer ter você aqui conosco participando dessa coluna. Te desejamos todo o sucesso do mundo!

R: Que assim seja a todos nós e conte comigo. Forte abraço

Por Adriano Canestri

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