Sucesso mundial do underground, conversamos com OMOLOKO sobre grande turnê que durou 7 meses

por Rodrigo Airaf

Talvez, há mais de 10 anos, quando deu início à sua jornada na música, seria difícil para João Vitor Cobat acreditar que um dia teria em seu currículo festivais internacionais de peso, como o Dekmantel holandês e clubs icônicos como o Potato Head e o Panorama Bar.

Mas aconteceu para ele. Sob o codinome artístico OMOLOKO, ele teve em 2023 o seu melhor ano de carreira até agora. Em conversa com a House Mag, ele destaca memórias da turnê e comenta alguns insights, a começar pela satisfação de ter chegado lá através da pesquisa ampla e ecletismo sonoro que já chamavam atenção aqui no Brasil.

“Se você vê alguém falar que ´não gosta de house, não gosta de techno, não gosta de electro´ é porque não estudou as coisas, porque tem coisas boas em tudo, sabe? Eu sempre enxerguei a música como um grande estudo que me dá informações sociais, políticas, de uma história, de um povo, de um lugar. E enxergar a música desse jeito sempre me fez ter um leque muito grande de conhecimento de vários estilos, vários âmbitos, e também de mostrar, de ter esse conceito no meu trabalho de expandir as coisas, de mostrar coisas novas pras pessoas, assim. Você nunca vai me ver tocando um grande hit, porque eu sempre achei fácil assim. Mostrar outras possibilidades na pista de dança sempre foi o que encheu muito meu olho enquanto pesquisador.” 

OMOLOKO no resort do Potato Head, em Bali

Europa, Ásia e Oceania foram os continentes explorados por OMOLOKO nesta turnê. Foram cerca de 30 shows no total, em cidades da França, Alemanha, Finlândia, Bélgica, Espanha, Israel, Austrália, Vietnã, China, Tailândia e Indonésia. Também teve uma breve parada no Brasil para datas no DF, RJ, MG e SP

“Quando eu cheguei lá fora, eu consegui enxergar que o pessoal não sabe nem onde é 

que fica geograficamente o Brasil. Como as pessoas iam saber do meu trabalho? Mesmo tendo internet, mesmo tendo essa pesquisa, as pessoas não têm essa curiosidade e esse interesse para uma cena eletrônica latino-americana, infelizmente. É uma barreira xenofóbica gigante, tanto para as pessoas da Europa enxergarem a gente aqui como para a gente enxergar as cenas, por exemplo, do Nordeste… e isso impactou muito na minha cabeça, tipo assim, foi meio que um sentimento de recomeçar. Foi uma experiência bem engrandecedora para mim que me fez enxergar e me acrescentar em vários pontos.” 

O DJ, que é potiguar e radicado em Belo Horizonte, se apaixonou pelo Sudeste Asiático pela característica calorosa das pessoas que moram lá. A seguir, ele comenta algumas diferenças que encontrou na cena lá de fora e destaca três shows inesquecíveis da turnê. 

 

“É doido porque, em cada lugar, tocar depende de uma troca de energia, né? Não sou só eu que entrego energia, eu tenho que receber a energia do público também pra gente criar uma noite incrível. Sidney foi incrível de tocar. Eu fiz um set incrível e teve essa troca muito doida, apesar de ser uma plateia muito jovem. O Wonderfruit foi incrível e eu me conectei muito bem com várias pessoas, fiz vários amigos filipinos, foi um momento bem especial. Também na China foi muito legal, porque foi o lugar com maior choque cultural pra mim e eu não tava esperando que tivesse uma pista calorosa, uma pista queer como foi, numa noite de Natal com 200 pessoas na loucura e eu tocando a 160 BPM.” 

Entre os destaques da turnê, além do Panorama/Berghain e de um super Réveillon no já citado Potato Head (Bali) ao lado de nomes prestigiados como Palms Trax e Shanti Celeste, OMOLOKO emplacou seus sons no festival tailandês Wonderfruit, atualmente um carro-chefe de toda a cena asiática. 

OMOLOKO no Echo Beach, Austrália-

Também se apresentou em festivais conhecidos do Velho Continente, como Whole Festival, Soulfull Festival e Septem Festival. Já na Austrália, destaque para o famigerado club Music Room. OMOLOKO comenta sobre o cenário internacional ser bastante orientado para a curadoria de talentos para além do hype. 

“Eu sinto que aqui existe um grande círculo de mercado em que o talento não é uma coisa que é levada mais em conta, sabe? Isso é um pouco complicado e pode ser um pouco adoecedor, não só para mim mas para vários artistas no Brasil que têm um grande trabalho, que são incríveis, são geniais e que não conseguem esse espaço porque não tem esse contato, não tem essa oportunidade, esse lugar aberto. Então eu sinto que lá fora as coisas aconteceram de uma forma mais fluida, através do meu talento, da minha música e do que eu tava querendo passar enquanto DJ. Aqui eu sinto uma grande dificuldade de conseguir adentrar esses lugares porque eu não vou ficar pedindo nada para ninguém, sabe? Eu não pedi nada pro Panorama Bar, eu não pedi nada pro Dekmantel… todas as pessoas me acessaram através do meu trabalho, e é a forma que eu acho mais genuína das coisas acontecerem, sabe?”

Não somente pelas pistas Brasil afora, 2023 foi um ano importante para a consolidação artística de OMOLOKO na Internet. O banheiro mais famoso da Europa, o HÖR Berlin, foi uma das passagens do artista, que teve o set publicado no YouTube. E a GUDU Records, label da Peggy Gou, publicou um set no Soundcloud em que o artista promove um repertório 100% produzido por brasileiros. 

Apesar de celebrar as conquistas recentes, OMOLOKO já mira no futuro e confirmou seu retorno para a Europa e a Ásia em 2024. Ele encerra dando uma dica importante para artistas de sua cena que também querem chegar lá. 

“Às vezes a gente fica almejando coisas que talvez não são para ser nossas, sabe? E a gente esquece de se apoiar e de se apegar no que está na nossa frente e em quem está realmente com a gente. Então crie as suas conexões pelo caminho de onde você sente sinceridade e que você não precisa estar ‘se fazendo’, ou estar se provando o tempo todo para você ser reconhecido, porque se você for seguir esse caminho você segue um caminho de frustração. E seja fiel também ao que você acredita e o que você quer passar enquanto artista. Estude muito, música é sobre estudo”. 

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