Entrevista: NORMAN COOK AKA FATBOY SLIM

Por Gabriela Loschi, de NY

Norman Cook criou um dos alter-egos mais longevos e relevantes da cena eletrônica de que se tem notícia. Ao combinar refrões e melodias cativantes com batidas de house, funk, breakbeats, rock, hip hop e outros ritmos, nos anos 90, criou um estilo próprio que o levou ao estrelato e às paradas de rádio. Mas quem pensa que a “big beat” limitou sua capacidade de inovar, melhor conferir as músicas já lançadas pelo astro sob oito pseudônimos. Das letras socialistas dos Housemartins (banda indie-pop da qual foi baixista nos 80), abraçou o universo pop antes de todo esse oba oba e glamour de DJs super-stars – e sem ter sido ridicularizado pelo underground, apesar de alguns apontarem que a longo prazo, sua postura empolgada e brincalhona talvez tenha revelado-se mais importante que o som propriamente dito. Autêntico, levantou a bandeira da diversão como estilo de vida e vê nessa atitude, inclusive, algo revolucionário: “A música eletrônica transformou a Inglaterra e não para de mudar o mundo”. Sua personalidade alegre e festeira, combina certinho com um país verde e amarelo que ele faz questão de incluir em todas as turnês.

 

Com vocês, Fatboy Slim, num papo aberto, sincero e descontraído com a House Mag.

 

Já que você está vindo pra cá, conte sobre sua relação próxima com os brasileiros e como eles te inspiram.

Tenho um affair com o Brasil, um amor contínuo. As pessoas são receptivas e curtem a vida pra valer! Tento passar por aí todo ano, de preferência no verão e com gigs diferentes. Curto o país também, ano passado fui a Buzios, cidade linda. Tenho amigos em SP, RJ, onde saio pra comer. Gosto de churrasco e tudo o que tem palmito, algo que não encontramos facilmente fora daí.

 

Também sentimos influência da música brasileira em suas músicas…

Eu amo música brasileira, as diferentes culturas, misturas de ritmos. Da última vez descobri Elis Regina! Gosto de samba da velha escola e bossa nova, Tom Jobim… cresci ouvindo isso com meus pais, fez parte do meu background e das minhas influências.

 

E você é hoje uma das maiores influências da música eletrônica pra muita gente. Fale mais das suas próprias…

Minha maior influência, quando eu tinha 13, foi punk-rock, inclusive nas idéias de que não precisa ser um músico brilhante para formar uma banda. Se você gosta de música vai lá e faça! The Clash, Grandmaster Flash. E de Donna Summer ouvi as primeiras faixas eletrônicas, o que me levou para dentro do gênero.

 

Como foi essa transição para DJ? Você foi um dos primeiros a migrar do rock para a eletrônica e acompanhou a transformação da cena…

Eu ouvia punk e aos 18 conheci os clubes. Foi uma época ótima para a eletrônica, quando explodiu Afrika Bambaataa e o Soulsonic, a Planet Rock… Continuei sendo influenciado pelos “novos românticos”, Human League, Depeche Mode. Ir a clubes, dançar… encontrar garotas, me influenciou. Interessei-me por acid-house com Born Slippy (Underworld) e finalmente quando me tornei Fatboy Slim, criei meu estilo com essa mistura.

 

E então se tornou um pop-star. Mas já imaginava o quão grande poderia vir a ser? Pois você viu de perto o DJ passar de papel secundário a ator principal nas festas.

Naquela época, honestamente, eu nunca imaginei que me tornaria grande assim como um DJ, e que a profissão cresceria tanto, nem que as dimensões seriam mundiais. Não sabiamos que a internet viria a ser o que é hoje. A ordem natural era você se destacar na Inglaterra, ir para França, alcançar Alemanha e talvez lá na frente a América. Já hoje… tudo instantâneo. Antes eu passeava em lojas de discos, hoje navego pela rede, esta tudo mais fácil.

 

Pra onde a cena está indo em?

A dance music está mais comerciável e comercial, com David Guetta, Swedish House Mafia, o que traz mais visibilidade, toca em rádios… e o underground também está maior! Eu tive meu momento de pop-star já há 10 anos e sou muito feliz sendo DJ hoje. Mas vamos ser sinceros, David Guetta tem que trabalhar muito ainda… a cena está indo e não vai parar, mas é uma responsabiliade enorme estar onde esses artistas estão e a música é um ciclo…

 

Fale do Big Beat Boutique em junho. Quais conceitos, após 10 anos continuam e o que se recicla?

Não tem nada exatamente novo, o show está apenas maior e a tecnologia me permite incrementar o visual com vídeos, telas e iluminação. Gosto de ser VJ e emitir projeções direto da mesa, para ter mais recursos, já que não tenho os instrumentos no palco, como uma banda. Algo como tentar fazer um show de rock, mas como DJ.

 

Podemos esperar um DVD novo?

Oh, wow! Um novo DVD? Não tem nada planejado… mas bem que deveríamos pensar sobre isso! Seria provavelmente no Brighton Soccer Stadium.

 

O que você mais gosta na vida de super DJ?

Viajar o mundo e transformar as pessoas, como se fosse um romântico menestrel vagando por aí contando histórias e fazendo as pessoas dançarem através da sua viagem musical.

 

Que histórias quer contar às pessoas? O que você pensa quando toca?

Eu escrevia mensagens, colocava em frente à camera para aparecer no telão, assim todos viam o que se passava em minha cabeça. Geralmente coisas eufóricas e nada a ver do tipo “Mais alto! Rápido!”. A dance músic também desperta “sexy feelings”, assim como o rock a rebeldia. No Brasil, com todas aquelas meninas sensuais… talvez eu tenha alguns pensamentos desse tipo. O que eu quero mesmo é espalhar alegria. E se você faz essa jornada num lugar bonito, tempo bom, com pessoas legais… isso é o que eu chamo de melhor trabalho do mundo.

 

Qual seria o lado negativo?

A pior coisa que poderia acontecer com qualquer DJ é esvaziar a pista. Sabe quando você troca uma faixa e todo mundo vai pro bar, conversar perto do banheiro, essas coisas?

 

Mas não consigo imaginar uma coisa dessas acontecendo com você!

Não tem acontecido comigo recentemente na verdade, mas acontece com todos os DJs em algum momento, é inevitável. Você coloca a faixa errada, desanima a pista. O fato é que sempre tem músicas no seu case que servem pra encher a pista de novo.

 

No seu caso você tem várias dessas faixas coringas. Quais usaria nesses momentos?

Hum… se eu estivesse no Brasil, provavelmente tocaria “Put your hands up for Brazil” ou Groove Armada, “Superstylin”. Claro que faixas como “Praise you” precisam ser tocadas sempre… 

 

Você se afastou uma época para tratar o alcoolismo. O que mudou nas suas gigs ao parar de beber? Eu lembro você dizendo que não se imaginava tocando sóbrio…

A primeira grande mudança é que agora eu me lembro de tudo! Meus shows estão mais profissionais, dizem que estou tocando melhor e agora me sinto jovem e bem disposto quando paro de tocar. Foi assustador no início, é difícil, mas estou mais feliz, queria mudar.

 

O que o levou a parar exatamente?

Há quase três anos, na última vez que bebi, achei que era o suficiente. E simplesmente porque minha mulher (a apresentadora de TV Zoe Ball) parou, um mês antes de mim. Nós fazemos tudo juntos. Bebíamos juntos nas festas… e agora continuamos, mas sem álcool. Estamos há 13 anos juntos, ela também está no show business, acho que vivemos melhor ainda agora.

 

Que lições tira disso tudo? Algum conselho para quem está começando?

Eu provavelmente diria: Aproveite a festa, mas saiba reconhecer o seu fim. Claro que nunca vai ser horrível, mas após 30 anos ficando bêbado sempre que eu estava trabalhando, não era mais divertido. Eu jamais falaria para alguém não beber. Se você sabe, vá e aproveite. Ou você pode continuar bebendo por muito tempo e chegar uma hora ter que parar. E nesse meio tempo, se divirta o máximo que puder. Aproveite enquanto é jovem.

 

Lembro de você falando também que quando o Norman Cook tomava uma dose de vodka se transformava em Fatboy Slim. E agora, planeja lançar algo novo?

Sempre existem rumores sobre um novo nome, mas não há planos no momento e se tivesse eu não poderia dizer pois seria segredo (risos). Na internet muitas pessoas especulam sobre eu deixar de ser Fatboy Slim, mas uma coisa eu posso te dizer. Todo mundo sabe como eu me pareço hoje em dia. Eu nunca vou deixar de ser Fatboy Slim.

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