Fim da gravadora Lost & Found e futuro no cinema? Conversamos com exclusividade com Guy J, que desembarca no Brasil em dezembro.

Por redação

Foto: divulgação

Julho de 2012, um jovem produtor em ascensão meteórica dava início de forma despretensiosa a sua própria gravadora. Logo na faixa 001, o impacto na cena progressive house foi imenso, porém, o que ninguém imaginava, é que este selo iria se tornar uma das plataformas mais influentes na história da dance music underground. E aquela música? bem, um verdadeiro clássico.

Mais de dez anos depois e com incontáveis lançamentos que explodiram nas pistas de todo mundo, Guy J anuncia o encerramento de sua consagrada gravadora Lost & Found. Não mais como um produtor que brilhava os olhos dos maiores DJs do gênero por sua visão particular de fazer música, mas, agora, ele mesmo sendo um protagonista na cena global, admirado ainda mais por sua genialidade no estúdio, pintando obras irrepetíveis através de ondas sonoras e também reconhecido pelo público e por seus pares como um DJ de primeira linha, sendo alçado ao posto de um verdadeiro ‘’mestre’’ na arte de contar histórias.

Junto desse momento e após 11 anos liderando toda uma nova geração de produtores que revolucionaram o progressive house para sempre, Guy J pegou todos de surpresa com o anúncio. Difícil não lembrar de clássicos como ‘’Dizzy Moments, MDQ, Aurora, Airborne, Synthopia, Last Standing… e tantos outros que fizeram seus fãs entrar em delírio ou se emocionarem de forma incondicional? Confira o catalogo completo no beatport.

Lost & Found entra para o seleto hall de maiores labels de todos os tempos em todos os estilos e seu impacto ainda será medido nas próximas décadas. Quanto a música, esta peça autêntica ainda resiste ao teste do tempo. Ao chegar no LF100, o produtor Israelense resolve relança-la com um novo mix downtempo, provando que mais do que o nome de sua extinta label, mais do que apenas mais um single descartável, é agora uma obra-prima atemporal.

Reproduzimos abaixo o texto de anúncio de encerramento e em seguida nosso colunista Jon Facchi conversa exclusivamente com o ´´baixinho’’ sobre todo esse processo e suas motivações.

‘Forever Lost

Meus queridos – todos,

Já faz algum tempo que estou procurando palavras para esse post, pensando em como faço para entregar essa mensagem para vocês, como me expressar para que vocês possam (espero) entender o que se passa em minha mente, como estou acostumado a fazer isso através da música.

O 100º lançamento da Lost & Found será lançado hoje (21/07) e será o último lançamento da gravadora. Este movimento vem do amor pela gravadora e do amor que vocês deram a ela, a fazendo ser o que é hoje – uma comunidade, um mundo por si só.

A razão para isso é que acredito que as coisas devem terminar no auge para serem lembradas pela sua beleza.

Quero que vocês saibam que essa mudança é um privilégio.

Lost & Found é uma história de sucesso em todos os aspectos, tenho muito orgulho e orgulho de fazer parte disso. Recebo muitas mensagens de fãs da gravadora sobre o quanto ela significa para eles, desde pessoas que fizeram tatuagens até pessoas que fazem músicas especialmente para ela, por isso pensei muitas vezes em como não decepcionar essas pessoas. Na minha cabeça, quero que eles se lembrem de que fizeram parte de algo incrível, uma era de música mágica que uniu as pessoas.

Mais importante ainda quero agradecer aos produtores, vocês são a base desse selo milagroso, vocês criaram músicas que me deixaram sem palavras e apaixonado pelo que faço cada vez mais.

Agradecimentos especiais ao Dave que desenhou aquele logotipo incrível e ao Igor que fez a bela arte novamente.

Tudo isso resultou em um produto lindo que significou e significa muito para mim e para vocês.

Estou encerrando este capítulo para iniciar um novo.

Guy’’

Olá Guy, como tem sido os últimos meses de tour?

Olá! O verão foi super agitado e agora se transforma em outono agitado, o que é ótimo :)

Você pegou o mundo de surpresa com o anuncio do encerramento de sua gravadora Lost & Found após mais de 10 anos de atividade. Na mensagem das redes sociais você fala em ‘’parar no auge’’. Essa é uma forma de pensar não muito comum no ocidente, você já vinha planejando isso foi aconteceu agora?

A ideia de fechar a gravadora me veio à cabeça cerca de um ano antes de fechar, sou uma pessoa que pensa muito o tempo todo e alguns pensamentos vêm e vão, outros ficam e começam a se aprofundar, e esse acabou não saindo mais. Pareceu-me certo fazer essa mudança pelo respeito que a gravadora possui dos artistas e dos fãs.

O encerramento se dá exatamente no lançamento de número 100, fechando um catalogo impressionante de faixas que marcaram toda uma geração. Do que você mais se orgulha na Lost & Found?

Acho que estou muito orgulhoso de como isso uniu as pessoas. A gravadora criou uma comunidade que fez as pessoas se unirem e sentirem que têm uma conexão e tudo isso acontece através da música.

O que você mais aprendeu em todo esse complexo processo de gerenciar uma marca global onde os fãs sempre esperaram as melhores faixas?

Aprendi uma coisa: siga seus sentimentos. Lancei na gravadora apenas músicas que gostava. Nunca houve uma decisão de lançar uma música apenas por causa do perfil do produtor ou do que ela trará para a gravadora apenas por causa do “nome”. Rejeitei muitas músicas boas não porque não eram boas, mas por simplesmente não me conectar com elas, também fui muito crítico em relação às minhas próprias músicas. Ao mesmo tempo que

eu demorava muito para escolher as músicas para a gravadora, era também feito de forma muito “orgânica”.

Fica até difícil de escolher algumas músicas para mencionar, é realmente incrível a quantidade de clássicos que o catalogo possui, você tem algumas faixas favoritas para comentar?

Obrigado.! É muito difícil dizer as favoritas, estou olhando o catálogo para pensar no que responder e estou muito feliz relembrando e fazendo parte de todas essas lindas músicas.

Eu considero que você e a L&F revolucionaram a cena progressive house, levando o estilo a outro patamar e ajudando a criar toda uma nova e enorme base de fãs, assim como aconteceu nos anos 90 com labels como Renaissance e Hooj Choons. Como você vê essa comunidade global de seguidores?

Antes de responder, quero dizer que estou muito feliz por você mencionar a Renaissance e especialmente a Hooj Choons, que para mim foi um modelo. O catálogo da Hooj é simplesmente insano e me influenciou muito.

Pelas reações das pessoas ao fechamento da gravadora posso dizer que a comunidade de seguidores é muito amorosa e calorosa. Você pode perceber que essa comunidade era totalmente baseada na música.

Alias, toda essa rede global de fãs ficou se perguntando, e agora? Visto que você possui até uma festa em referência a label, We Are Lost….

Quero que “We Are Lost” cresça como uma marca própria para eventos com DJs similares que tragam música com melodias para a pista de dança e com artistas do nosso gênero. Acho que até agora a programação dos eventos W.A.L está incrível e não é algo que você vê em muitos festivais. O objetivo é fazer isso acontecer em países onde sei que há amor e demanda por essa música, como Argentina, Canadá, Hungria e muito mais. Espero que no Brasil também!

No último mês você anunciou uma mini série downtempo chamada Drifting Memory part 1 e é algo realmente muito introspectivo. Você considera que pode iniciar uma nova fase na sua carreira como produtor musical?

Sempre adorei fazer música downtempo e experimentar dentro do estúdio, tenho esquipamentos incríveis no estúdio e adoro ficar testando coisas, foi assim que nasceu “Drifting Memory”.

A muitos anos atrás eu lembro que o Tretemoller resolveu abandonar as produções para dance music por sentir que sua criatividade não cabia mais em 4/4. Você pensa que um dia pode produzir voltado há outras coisas também, como por exemplo uma trilha sonora para o cinema?

É meu sonho produzir uma trilha sonora, acho que eu poderia fazer algo único e sei que essa oportunidade vai chegar. Vindo da Dance music, acredito que poucos produtores até hoje, incríveis como Trentemoller, puderam passaram para essa fase e é ótimo vê-los tomar tamanha decisão. Esse é um artista que realmente possui liberdade.

Como você tem visto a evolução da tecnologia por inteligência artificial dentro da música? Temos visto aplicativos que completam músicas ou criam a letra de uma canção. Você é pessimista quanto a dominação da I.A na criatividade humana?

Considero a IA algo um pouco preocupante, mas essa é, obviamente, a minha opinião pessoal. Acredito que tem o potencial de assumir muitos aspectos da nossa vida, mas enquanto não estiver totalmente desenvolvida emocionalmente, os humanos ainda serão muito mais criativos.

Em 2023 você vai ter apenas uma data no Brasil, todos aqui estão com saudades. Você virá ao Surreal Park em dezembro, qual a expectativa?

Estou com muitas saudades do Brasil. Ouvi muitas coisas incríveis sobre este clube, mal posso esperar para tocar lá, tocar música para vocês.

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