Amadores de sucesso? Estudo indica transformações profundas para o futuro da música eletrônica

Por Lau Ferreira

Foto: Eric Nopanen (via Unsplash)

Você já parou pra pensar que talvez a maior parte dos produtores de música eletrônica não seja exatamente profissional? Não que isso signifique que sua arte seja de má qualidade, mas que um grande número dessas pessoas não encara a atividade como uma carreira. É o que sugere o último relatório do IMS Business, apresentado recentemente na International Music Summit, em Ibiza.

Para 2023, a pesquisa foi comandada pela primeira vez por Mark Mulligan, da renomada MIDiA Research, e com isso, conseguiu uma análise mais robusta, partindo de uma base de dados exclusiva da empresa, que permitiu diversos novos insights. E talvez o mais curioso deles seja a constatação de que a linha entre o profissional e o “amador” seja cada vez mais tênue nessa indústria.

O gráfico maior, que você do lado esquerdo da figura abaixo, revela que, de um vasto universo de “dance music creators” (produtores de música eletrônica), apenas 20% têm o ofício como sua principal fonte de renda. Os outros 80% dividem-se entre os que não ganham nada (45%) e os que ganham algo com sua música, mas não o suficiente para viver apenas dela (35%).

Imagem: IMS Business Report 2023/Reprodução

O gráfico menor, da direita, é um recorte que analisa como esses 80%, que não têm uma carreira plena como artistas, encaram a situação. Destes, 85% consideram que produzir dance music é uma paixão, sendo que a maioria (44%) sequer tem o objetivo de viver profissionalmente da música, em contraponto aos outros 41% que desejam chegar lá. De todos esses “criadores não profissionais”, apenas 9% consideram sua arte um hobby, e ainda há uma minoria de 5% que já chegou a ter uma carreira artística plena.

Ou seja, há uma grande parcela de artistas de música eletrônica que produz de forma totalmente leve e despretensiosa. Isso significa que poderemos ver, em breve, transformações mercadológicas similares ao que aconteceu nos últimos dez anos com a imprensa, em que as redes sociais colocaram ao alcance de qualquer pessoa a capacidade de comunicar e influenciar.

Atualmente, as fronteiras entre a imprensa tradicional e esses novos profissionais estão bastante difusas. O universo do jornalismo ainda se encontra em uma crise existencial — e econômica — profunda, dilemas éticos seguem em debate e as fake news se tornaram uma chaga global.

A Inteligência Artificial também precisa ser levada em conta, já que, desde a popularização do ChatGPT, estamos rumando a um ponto em que a tecnologia cada vez mais vai encurtar caminhos até então longos e difíceis de trilhar — e fazer música certamente é um deles.

É por isso que esse ponto em particular do IMS Report é tão significativo, já que indica uma ampla possibilidade de transformações profundas na indústria da dance music. 

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