Estrela do techno, Monika Kruse volta ao Brasil e bate um papo exclusivo com a gente!


Por: Lucas Portilho de Faria Cunha
Foto: Marie Staggat

 

Com 25 anos de carreira, Monika Kruse pode ser considerada uma das DJs e produtoras mais respeitadas do mundo. Fundadora da gravadora Terminal M, Monika é responsável por lançar os trabalhos de artistas em grande ascensão como: ANNA, Pig&Dan, Paride, Saraceni, Noir e outros profissionais de peso do cenário eletrônico internacional.

Sua dedicação com a música eletrônica lhe proporcionou apresentações memoráveis em grandes festivais, como o Time Warp, e em festas fantásticas, como a The Revolution, evento organizado na Space Ibiza. Para além das pistas de dança, Monika é idealizadora do projeto “No Historical Backspin”: iniciativa lançada em 2000 e responsável por auxiliar pessoas que sofreram com racismo, homofobia, xenofobia e outras formas de preconceito.

monika_kruse_time_warp_2016_credit_kdk_foto_500
KDK Photo

Pode-se dizer que Monika não escolheu a música, a música a escolheu. Treinada em piano desde criança, a produtora cresceu comprando e colecionando vinis. Após a descoberta dos ritmos envolventes de Chicago e de Detroit, Monika foi envolvida pelas melodias e harmonias musicais de origem eletrônica. Independente da sua área de atuação, seja como produtora, deejay ou idealizadora de projetos sociais, o esforço da produtora é de transformar as pessoas através do poder da música: “A música é a minha melhor amiga. Ela não me deixa ficar para baixo. Nos bons e nos maus momentos a música sempre está presente. Ela é o meu primeiro amor”.

Aproveitando a vinda da artista para o Brasil, a House Mag conversou com Monika sobre a sua profissão como deejay e produtora, observações sobre o cenário eletrônico, sobre sua gravadora Terminal M e sobre o projeto social no qual idealiza. Confira a entrevista na íntegra:

 

HOUSE MAG: Olá Monika! Obrigado por esta entrevista. Gostaríamos que começasse falando sobre a Terminal M. Como a Terminal M foi criada? Por que o uso do “Terminal M” como nome da gravadora? Nos conte quais são os três lançamentos favoritos deste ano pela gravadora.

MONIKA KRUZE: Olá! Obrigado a você pelo interesse no meu trabalho! :) Eu fundei a minha gravadora no ano de 2000. O “M” de “Terminal M” significa Monika e Música. Eu escolhi a palavra “Terminal” porque eu vi a gravadora como uma plataforma para artistas, sons e ideias diferentes. É como se fosse um aeroporto, às vezes os aviões ou os trens vão em uma direção, às vezes em outra direção. Você conhece um monte de pessoas nos aeroportos, e todo mundo possui a sua própria estória, história e pode inspirar você com as suas impressões. É a mesma coisa quando você conhece artistas. Todo mundo possui o seu próprio estilo, visão e impressões. No final, nós todos possuímos um único propósito: viajar com a música. Minha intenção com a fundação da gravadora, foi dar aos artistas a oportunidade de apresentar as suas músicas. É sempre muito bom dar suporte para pessoas talentosas e ver o crescimento delas ao ponto de serem reconhecidas como, por exemplo: os artistas Andhim e ANNA. Outra razão pela qual eu comecei a gravadora, foi a oportunidade de não precisar esperar tanto para ter as minhas gravações lançadas. As vezes pode demorar um ano para as minhas faixas saírem, o que eu acho muito tempo.

 

HM: Por favor, poderia nos contar algumas das músicas ou artistas que vão fazer parte da próxima compilação da Terminal M? Você já possui uma data para o lançamento?

MK: O próximo lançamento da Terminal M vai se chamar “Cookies” e será lançado no começo de fevereiro do próximo ano. Muitos dos membros da família Terminal M estarão nessa compilação, como, por exemplo: Stefano Noferini, Metodi Hristov, Mladen Tomic, Luca Morris & Landmark, Boris, e mais alguns novos artistas como Whyte Noize, Veerus & Maxie Devine e Kintar. [Inclusive] a faixa do Mladen Tomic eu toquei no Tomorrowland no último ano e muitas pessoas estão esperando pelo lançamento.

 

HM: Outra gravadora que você criou foi a “Electric Avenue”. Quais são as diferenças entre as gravadoras e nos conte por que a “Electric” teve uma pequena pausa.

MK: Quando eu fundei a Terminal M, era mais pra harder techno (technos mais duros) para momentos de auge dentro de um club. No entanto, como eu adoro outros estilos musicais, eu quis lançar outras músicas que estava escutando. Foi a partir daí que eu fundei a “Electric Avenue”. Depois de alguns anos, como DJ, eu estava tocando [músicas] mais lentas e a Terminal M estava diminuindo a velicidade também. Com isso, a diferença entre as duas gravadoras não foi ficando grande mais… por isso eu decidi focar apenas na Terminal M.

HM: Durante uma entrevista que você deu para a Data Transmission, você comentou sobre festas organizadas em bunkers construídos durante a Segunda Guerra Mundial. Nos conte sobre as arquiteturas de pistas mais impressionantes que você já tocou.

MK: Uma das mais impressionantes estruturas de pista de dança que eu já vi foi em uma festa ilegal que eu me apresentei em cima de um tanque de guerra. Localizado em área militar fora de Munique, se o canhão do tanque virasse, toda a cabine do DJ virava junto. O DJ era o soldado da música [literalmente].

HM: Você vai vir para o Brasil dia 17 de dezembro para o Euphoria Festival. Quantas vezes você já tocou aqui e o que você mais gosta da cultura brasileira?

MK: Eu toquei cerca de cinco vezes no Brasil. É sempre muito bom. O que eu mais gosto na cultura brasileira é o jeito de viver. Eu realmente adoraria ir no Carnaval do Rio [pelo menos] uma vez.

HM: Infelizmente, depois das noites incríveis de festas na Space Ibiza, o clube teve que fechar as suas portas. Baseado na sua experiência, de que maneira o fechamento vai refletir na cultura da música eletrônica mundial?

MK: Sim, é muito triste saber que a Space fechou. Mas eu não acho que isto vai afetar o cenário da música eletrônica mundialmente. É claro que vamos sentir falta do clube, e Ibiza vai sofrer mudanças por causa disto. No entanto o cenário musical sempre evolui e sempre irá aparecer alguma coisa legal e nova. Alguns clubes voltados a música fecharam, como a Hacienda, Limelight, The Omen, Ultraschall, o primeiro Tresor, Ostgut, e é claro: a Love Parade nunca mais vai acontecer de novo. Mas, por um outro lado, agora nós temos clubes incríveis operando, como: Berghain, Nordstern e a fabric.

HM: Em uma entrevista para a Decoded Magazine, você fala sobre sites de download ilegal prejudicarem o mercado de vendas de música. Como a Terminal M protege as produções dos artistas?

MK: Nós procuramos pelas páginas que postam as faixas ilegalmente e tentamos encontrar [os donos] para que retirem [os links] do ar.

HM: Você possui um projeto muito importante chamado “No Historical Backspin”. Nos conte sobre o projeto e os bons efeitos da iniciativa pelo mundo.

MK: O “No Historical Backspin” é um [projeto] de caridade que recebe dinheiro para dar assistência direta para pessoas que sofrem de racismo, homofobia, anti semitismo e xenofobia. Eu comecei a iniciativa no ano 2000, momento em que tivemos vários episódios de racismo e homofobia acontecendo na Alemanha e alguns colegas e amigos gays foram atacados. Ninguém deve ser discriminado, impedido ou machucado pela sua prática, raça, gênero, crença, mudanças físicas ou orientação sexual – na Alemanha, ou em qualquer lugar. Eu gosto de celebrar a diversidade social através da música com alegria e união, desta forma eu dou exemplo de tolerância por um futuro mútuo e pacífico, isto justifica o motivo pelo qual eu comecei as festas de caridade.  Eu trabalhei junto com várias organizações doando o dinheiro que eu recebi pelas festas de caridade que acontecem por toda a Alemanha.

HM: Aqui no Brasil nós constantemente ouvimos das pessoas “meu Deus! O país está em crise!”. Como administradora de uma gravadora, você acha que a crise econômica pelo mundo está esbarrando na área do entretenimento? De quais maneiras a crise poderia afetar os profissionais dentro do mundo da música eletrônica? Por favor, nos dê exemplos.

MK: Eu não acho que a área do entretenimento será esbarrada. As pessoas precisam dançar, as pessoas precisam de música e especialmente, em momentos difíceis, precisamos escapar dos nossos problemas. Talvez não se gaste tanto dinheiro como antes, mas interiormente é necessário usar a música como um escape e um jeito de esquecer os seus problemas.

 

HM: Em uma entrevista para a Pulse Radio, você disse que ‘não é o nome que conta, é a substância’. Por favor, poderia nos dizer quais são as substâncias que compõem um bom artista?

MK: Para mim, para que um artista seja bom e para que as faixas possuam um feeling especial, é necessário que se tenha um estilo próprio, que você sempre seja reconhecido. No mais, também é preciso que o artista não produza somente ferramentas que sejam esquecidas em um mês.

HM: Qual mensagem você possui para os fãs brasileiros?

MK: Eu estou feliz de voltar e ansiosa para me apresentar para vocês! Vamos ter bons momentos juntos!

HM: E quais palavras você pode dar para os iniciantes em produção de música eletrônica e deejays?

MK: Sempre sejam vocês mesmos e não imite outras pessoas. Deixe a música fluir do seu coração!

Fique por dentro