O sucesso da Suara representado por ele: COYU. Conversamos com o DJ e produtor em Amsterdã

Por: Alan Medeiros e Gabriela Loschi
Fotos: Divulgação e Patricia Ferreira

O trabalho da gravadora espanhola Suara é digno de aplausos. Nos últimos anos, a abrangência sonora trazida pelo selo é impressionante. Apenas para você ter uma ideia, artistas dos mais variáveis já passaram por lá. De Henry Saiz a Prok & Fitch, passando por alguns medalhões como D-Nox e os brasileiros Volkoder, ANNA e Leo Janeiro. 

A mente por trás desse sucesso todo é o espanhol Coyu, identificado mundialmente por sua paixão por felíneos (que estampam as capas da Suara) e seu estilo de som muito voltado para as pistas. Pra vocês terem uma noção da sua paixão profunda por gatos, seu último EP, NIN, é uma homenagem a Nin, seu gato de estimação – chamado de melhor amigo – que faleceu e pelo qual nutria um amor incondicional, possível de sentir na descrição do EP, que você pode ler e ouvir aqui. 

Coyu não só é um artista engajado na produção, como uma pessoa engajada em várias causas. Durante o ADE desse ano, visitamos a festa da Suara e conversamos com o DJ e produtor espanhol, que revelou detalhes interessantes sobre a sua carreira e sua forma de ver algumas questões. Confira abaixo:

 

HOUSE MAG – Olá, Coyu! Tudo bem? Podemos começar falando sobre sua relação com o Brasil. Sua mãe nasceu no país, certo? Como isso interferiu na sua relação com o nosso país? O que você achou da sua última tour por lá?

Coyu: Minha relação com o país é bastante especial. Minha família é espanhola, e passou 30 anos morando no Sul do Brasil. Então eu tenho escutado Bossa Nova e cantores brasileiros desde criança. Foi ótimo voltar ao país há alguns meses; eu toquei no Warung, foi minha primeira vez ali, e tocar num lugar tão especial foi mágico.



HM
 – Ano passado a Suara foi uma das labels que mais vendeu tracks no Beatport. Como tem sido liderar a gravadora que é uma das principais marcas da cena techno/house dos últimos anos?

Coyu – Sou o dono do selo, mas somos um time. Temos muitas pessoas trabalhando para a Suara fazendo um ótimo trabalho. Não me vejo como um líder, vejo a Suara como uma comunidade, uma família, e trabalhamos e batalhamos todos juntos.



HM
 – Como manager do label, como você sente as mudanças que plataformas de streaming e vendas de música como Soundcloud, Spotify e Beatport estão sofrendo atualmente?

Coyu – Não sei se eles vão mudar. Com certeza o Spotify e o Youtube, os plays onlines e broadcasts vão ficar cada vez maiores no futuro. Agora podemos assistir tudo online e live, em plataformas como be-at.tv e outras, eles podem assistir às festas pela internet, e acho isso incrível, que você não precisa estar no local para estar na festa. Considero tudo positivo.



HM 
– Você possui no currículo remixes para grandes nomes da cena, como Fatboy Slim, Joseph Capriati e MOBY. Como você se sente trabalhando nesse formato? Poderia indicar qual foi o seu remix preferido até hoje?

Coyu – Agora estou prestes a terminar um remix muito especial pro Moby, que é meu artista favorito de todos os tempos. A faixa que eu estou remixando é “Natural Blues”, que também é minha faixa favorita da vida. Então é uma honra muito grande poder colocar minhas mãos nela. Não sei se esse será o meu remix mais especial, mas com certeza será um dos que lembrarei para sempre.



HM
 – Além da Suara, seus releases são entregues a labels de renome na cena internacional, como Hot Creations, Defected e Liebe Detail. Na sua visão, qual a importância de se trabalhar com marcas estruturadas de forma profissional?

Coyu – Eu lanço muitas coisas pela Suara, mas eu gosto de lançar por outros labels fundamentais. Sou um artista techy, então procuro labels com a minha identidade de techno e house. Sou um artista bastante sortudo de ter a chance de trabalhar com algumas das melhores labels do momento. Você fala em Hot Creations, provavelmente a melhor tech house label. A Drumcode é provavelmente a melhor em techno. Então é ótimo poder lançar por elas.



HM
 – Ao longo da sua carreira você se apresentou para plateias diferentes, que vão desde clubs undergrounds realmente pequenos, até big palcos em festivais internacionais. De uma forma geral, qual desses 2 cenários é mais confortável para você?

Coyu – Me sinto bastante confortável nas duas situações. Festivais são muito divertidos, porque você tem uma plateia enorme e provavelmente algo mais fácil, porque quando você está tocando pra muitas pessoas em um club underground, você consegue sentir as expectativas em todo mundo. Então é mais fácil para um DJ tocar algo mais específico e ter sucesso, em um festival você tem que tocar os hits ou algo mais big room, mas eu me divirto das duas formas.

 
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Foto: Patricia Ferreira


HM 
– Como você avalia o atual momento da cena na Espanha?

Coyu – Acho que estamos no melhor momento da cena eletrônica na Espanha. Nós temos muitas gigs e produtores por aí tocando nos melhores clubs do mundo, lançando pelos melhores selos. Nossa cena clubber era melhor antes dessa crise econômica, mas agora está tentando voltar. Ainda temos grandes clubs em Barcelona, Madri, nas grandes cidades… Mas realmente é o melhor momento na nossa indústria, porque são centenas artistas e selos. Então acho que estamos muito bem.



HM
 – Há algum DJ ou produtor brasileiro que tem chamado sua atenção nos últimos meses. Se sim, qual?

Coyu – Sim, estamos começando a trabalhar com o Victor Ruiz, e também tem a Anna. No passado tivemos o Wehbba. Acho que temos bons produtores brasileiros, o underground está crescendo no Brasil o que é muito bom porque as pessoas são bastante receptivas. A cena brasileira está ficando cada vez melhor.



HM
 – Como você avalia o “boom” do techno nos últimos anos e de que forma isso tem afetado o mercado na sua opinião. 

Coyu – Acho que é bom. É bom perceber esse interesse nas pessoas mundo afora, nos festivais. Atualmente é mais fácil escutar techno nas rádios; provavelmente não em todos os países, mas é bem mais fácil do que há alguns anos. E mesmo todo aquele som EDM está ficando um pouco menos barulhento e um pouco mais underground. Os caras que tocavam EDM, trance, electro, agora tocam future house, o que ainda é EDM, mas na minha opinião soa melhor. Então é um momento muito interessante.

 
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HM – Como nós estamos no meio do ADE (mais especificamente no showcase da Suara em Amsterdam, realizando esta entrevista), vamos falar um pouco sobre a conferência, onde muitos painéis têm falado em sustentabilidade, mudanças sociais, o impacto dos nossos comportamentos. Na sua opinião, o quão importante é um artista utilizar sua imagem para causar impactos positivos nas pessoas?

Coyu – Claro. Somos pessoas públicas, aparecemos na internet, alguns de nós estamos na televisão, então representamos um modelo para a sociedade. Claro que você precisa se ligar nas causas e ter cuidado com as atitudes, como a saúde da planeta. Acho que a sustentabilidade é um tema cada vez mais importante, estamos criando cada vez mais uma mentalidade sociais. Nós tentamos cuidar das pessoas, dos animais, do nosso trabalho. Na Suara só trabalhamos com orgânicos, produtos ecológicos, e fazemos todas as nossas roupas na Europa, não na Índia, China ou Paquistão, onde as crianças estão trabalhando 18 horas por dia. Nos importamos muito com essas coisas. Nós ligamos para os animais, para os gatos — nós temos uma fundação para ajudar gatos — e também ligamos para o mundo, para as pessoas. Acho que tudo isso é muito importante.



HM
 – Não sei se você está a par, mas a situação política no Brasil atualmente está uma loucura.  Nós brasileiros tendemos a achar que as coisas são mais corruptas e piores no Brasil do que em qualquer outro lugar. Como você sente a situação política do seu país, atualmente?

Coyu – Eu estudei ciência política na faculdade, então estou bastante por dentro do que tem rolado com o Brasil, o que aconteceu com a Dilma Roussef, o caos que se formou. Na Espanha, temos um caso que não sei se é semelhante, mas ainda não temos um governo desde dezembro, então 10 meses sem governo, porque eles foram eleitos mas não tinham votos o suficiente para serem um governo de verdade. Temos um governo bastante corrupto e algo precisa mudar, porque tem muita gente antiga trabalhando por lá e acredito que a nova geração precisa assumir. Não estamos numa boa situação no nosso país, há muito o que se fazer.



HM
 – Outra discussão bastante presente na conferência é o lance das movimentações dos gêneros musicais e o que vem depois. Quais foram as coisas mais impressionantes que você viu recentemente em termos de música ou relacionado? 

Coyu – A música está evoluindo constantemente. O que hoje é cool pode não ser mais nada daqui a alguns meses. Isso é uma coisa bacana da nossa indústria, e é uma diferença entre underground e EDM; o EDM está aí há anos. Eu posso tocar house, techno, groovydeep, fulfil, e não acho que o DJ de EDM vai fazer isso — ele tem aquele set de electro, o de trance, base, e é só. Acho que essa é uma diferença crucial entre underground e EDM.



HM 
– O ano está chegando ao fim então preciso te perguntar: Quem em sua opinião fez um grande ano?

Coyu – Muita gente está indo bem. Suara está indo muito bem, com certeza um dos melhores labels deste ano. Maceo Plex, Adam Beyer e Drumcode, muita gente boa se destacando no momento.



HM
 – Última mensagem para os fãs brasileiros.

Coyu – Obrigado por me receberem há alguns meses em Brasilia e em Florianópolis, no Warung. É sempre um prazer estar na terra da minha mãe e espero voltar em breve!

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