Teve Ultra no Rio sim. E o saldo, como foi? Deu certo?

Por: Lucas Arnaud
Foto de capa: Rukes

É meus amigos! Somos brasileiros e o destino, ou melhor, as autoridades, não poderiam deixar de brincar com nossa natureza aventureira – tudo para nós, e especialmente no Rio, tem aquele “gostinho” bônus de incerteza e emoção, que por mais que tenha gerado ansiedade em muitos, no fim nos recompensou. Você provavelmente ja sabe do que estou falando: da “novela” que foi para poder permitir a execução da edição tupiniquim do Ultra Music Festival. Mais detalhes de como se desenrolou esse tocante enredo (entenda meu tom irônico!) podem ser recaptulados nessa matéria aqui, a qual explica como a localização do festival foi embargada por intituições ligadas ao governo até poucos dias antes da data prevista para a festa. Todavia, meu foco nessa matéria é ir direto ao ponto: Teve Ultra no Rio SIM!

Confesso que, como alguém que veio de longe, ao chegar ao Rio de Janeiro, estava com um pé atrás em relação ao local no qual por fim aconteceria o festival (o Sambódromo). O “chafurdo” nos diversos grupos e páginas do Facebook sobre o tema estavam infestados de comentários de figuras conhecidas na rede: os haters. E era sempre assim: “olhem aqui a foto do Sambódromo, não tem espaço suficiente pro Ultra la!” – “vejam as primeiras fotos do palco principal do Ultra, tá ridículo! Bem pequenininho!”.

Bem, apesar disso tudo, tentei ponderar que (pelo menos para mim) o line estava imperdível, então preferi relevar e ignorar esse tipo de comentário – e ir ver eu mesmo “qual era” a desse Ultra Rio. Convido você a acompanhar o relato dos meus dias de festival, para podermos daí retirar conclusões sobre os pontos positivos e os pontos negativos da festa. E lá vamos nós!

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Foto: Rudgr.com


A ESTRUTURA – Algumas observações

Cheguei cedo no festival. Ja dava pra notar que (principalmente devido à correria para montar tudo de última hora) haviam alguns probleminhas de organização. Não vi sinalização que indicasse de modo claro por onde se entrava no festival, e o fato de ter uma rua (sim, UMA RUA) cortando o festival no meio da fila também foi um fator que me deixou confuso. Era engraçado o esquema: os seguranças fechavam a fila e deixavam os carros passarem por alguns minutos, depois abriam e deixavam as pessoas da fila atravessarem a rua e adentrar o festival. Notei que a revista na fila era rigorosa – havendo inclusive alguns amigos meus que tiveram que abrir seus porta-dólares.

Enfim, cheguei la. Na frente do mainstage. E que main! Confesso que quando pisei ali naquele espaço e avistei a imponência do palco, um misto de surpresa e ânimo tomaram conta de mim! A design era lindo (para mim, muito mais bonito que o design dos outros palcos do Ultra aqui na América Latina, como o do Peru e o do Chile.

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Mainstage do Ultra no Peru

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Mainstage do Ultra no Chile

O soundsystem era excelente! Mesmo de longe do palco, você conseguia escutar em ALTO e BOM som o que estava rolando. E aqui não tenho medo de ser enfático: para mim o sistema de som foi um dos grandes diferenciais – como também é na edição de Miami.

Nesse momento ainda era cedo, e quem assumia o mainstage era Mykris. A vibe era de “warm up”. Fui, pois, dar uma olhada nos palcos menores (UMF Radio e Resistance) e confesso que, diferentemente do mainstage, me decepcionei. A cenografia nesses palcos secundários era pobre e genérica, não dava sequer para reconhecer que era um palco do Ultra Music Festival. O UMF Radio, por exemplo, parecia aqueles palcos de uma festa qualquer (sim, de uma festa QUALQUER)… Basicamente era a estrutura preta com uma mesa la em cima onde ficariam os DJs, e uns poucos painéis de LED… O Resistance pelo menos ainda tinha um pouco mais de LEDs e conseguia até gerar uma certa ambientação menos genérica, todavia ainda assim era muito fraco: não havia comparação com o Resistance no Ultra Miami, que contava com uma cenografia única, criativa e exclusiva (falo aqui do palco Arcadia/Spider).

Fora os problemas de organização ja citados, há alguns pontos negativos que eu gostaria de pontuar: primeiro, o preço altíssimo dos produtos la dentro. Uma água (garrafa) era 8 reais e uma Skol Beats era (pasmem!) 16 reais. Pior que isso tudo, para mim, era o fato do sistema não permitir que você checasse quanto estava gastando. Explico: no Tomorrowland, ao fazer alguma compra, você observava em uma tela (que estava sempre voltada para você) o valor que seria gasto, e DAÍ você confirmava a compra. No Ultra, você basicamente tinha que confiar que o atendente estava gastando no seu cartão o valor que você pediu – pois não tinha como verificar (a tela era pequena e em nenhum momento eles me mostraram o conteúdo dela).

Outro problema (e aqui vejo que o que influênciou foi a troca “às pressas” de local) foram os banheiros. Eram poucos e afastados – você tinha que basicamente cruzar os substages para chegar neles. Sempre haviam filas enormes, tudo apertado e muito calor.

Por outro lado, dentro do festival, me senti seguro – havia seguranças e staff circulando, e não ouvi relatos de arrastões ou de brigas. Em relação a isso, o ambiente era tranquilo.

 

A MÚSICA – Dia 1

Voltei ao mainstage para acompanhar o set do FTAMPA (e aqui, como grande fã, sou muito suspeito para comentar!). Ele manteve mais ou menos a linha que vinha trazendo desde o Tomorrowland Bélgica e o Federal Music. Tocou muito bigroom (não podia deixar de faltar “Slammer”, sua colaboração com Quintino), alguns estilos mais voltados para o bass (curti muito o mashup de Galantis – No Money (Remix do Dillon Francis) com Skrillex – VIPs!) – e por fim deu uma “acalmada”, tocando suas produções de progressive mais recentes.

Logo após, entra no mainstage JAUZ, que para mim era um dos nomes mais aguardados do festival (junto com DJ Snake). E veio o que eu pensava: um set padrão-ouro, concatenado com o que há de mais novo na música eletrônica. Ele dropou todas as suas tracks mais conhecidas, claro, com destaque para a “clássica” – Feel The Volume, e algumas IDs. O set foi bem parecido com o do Ultra Japão, ocorrido há pouco tempo, mas houve algumas diferenças. Dentre elas, foi o fato dele ter tocado o remix do Yellow Claw de “Ai se eu te pego”. Foi “fofa” a tentativa de JAUZ, mas para mim a referência brasileira foi meio genérica… Havia modos mais criativos de brincar com nosso acervo musical nacional.

Logo após assume no mainstage Alok. Aqui tenho uma consideração a fazer: respeito muito o estilo do artista, mas, na minha opinião, talvez o horário estivesse um pouco deslocado. Raciocine comigo: estávamos saindo de um set intenso de bass e trap (do JAUZ); nao faria muito sentido o próximo artista tocar LOW BPM (!). Concorda que há ai uma queda no ritmo do mainstage? (Enquanto em festivais internacionais a tendência é a intensidade dos sets ser crescente). Porém, minha ressalva se limita a isso. O set do Alok trouxe muitas de suas melhores tracks (e tome BYOB!) e foi um prato cheio para sua legião de fãs!

O Krewella (que assumiu o palco depois do Alok) teve o diferencial de ser LIVE, ou seja, a vocalista cantava ao vivo as tracks. Notei que o set foi bem eclético e puxou (até demais) a brasa para o rock. O Carnage era outro dos que eu muito aguardava, e foi muito irado quando ele dropou suas tracks famosas (PSY or Die, Toca, The End, para citar algumas). Mas na minha opinião o set dele “morgou” no final, quando ele começou a variar os estilos (tocar moombathon, reggaeton) – senti como se fossem 20 minutos sem um único drop – e isso me decepcionou. Não fui com expectativas para o Above & Beyond, e talvez por isso eu tenha curtido tanto! Um trance leve, calmo, mas com eventuais “quebradas” marcadas. E ai chegou o momento…

Assume o mainstage: DJ SNAKE! Que para mim era o nome mais aguardado de todo o festival. E a quebradeira “comeu solta”. Com drops “rasgando” e ao estilo “fim do mundo”, Snake soltou um set enérgico, coeso, quase sem pausas. Era direto ao ponto, e logo após direto ao ponto denovo. Drop atras de drop, “estuprando” o soundsystem do palco. Quer alguns exemplos? “Lookas – Game Over” e “Mercer – Drop it Low” foram alguns dos drops nesse estilo. Para finalizar, Snake tocou suas músicas mais light (que inclusive são seus grandes sucessos), como Middle e Let Me Love You. Para mim, o Ultra ja tinha sido vingado ali naquele momento!

Para finalizar, entra Martin Garrix, que trouxe também um set pacote completo para os fãs. Tocou desde suas tracks mais antigas, como Animals – até algumas que não tinham nem uma semana “de vida” como a “Make Up Your Mind”, feita em colaboração com o neto adotivo do Pablo Picasso, o Florian Picasso. Vale notar que essa 1h de set no Ultra Rio foi basicamente igual a uma das três horas de set do Garrix no showcase no ADE de Amsterdã, que aconteceu uma semana depois. Querendo ou não, tivemos no Rio um gostinho da apresentação especial de #1 do mundo no ADE.


A MÚSICA – Dia 2

Cheguei um pouco antes do início do Felguk.  O set deles também foi muito bom, com direito inclusive às classicas, como a 2nite. Também repetiram um mashup que eu curti muito desde o tempo do Tomorrowland Brasil 2015, que eles dropam com a track que eles fizeram em colaboração com o Dimitri Vegas & Like Mike (NOVA, o nome).

Depois disso fui curtir um pouco do palco UMF Radio, onde acompanhei o “lowzeira” do Bruno Furlan e do Chemical Surf. Voltei ao mainstage para assistir ao Vintage Culture. O set foi um verdadeiro “showcase” do artista. Estavam presentes muitas de suas tracks mais antigas, mas também algumas mais novas (como Narco Disco de Wolfire e Danny Olliiver, Drinkee, entre outras). Vintage mostrou que é capaz de comandar um mainstage com seu estilo, e notei que seu set estava muito mais maduro em relação ao do EDC Brasil (note que aqui falo sobre sets em mainstages, onde a dinâmica é um pouco diferente de sets em clubs, que é onde Vintage normalmente toca).

Sunnery James e Ryan Marciano trouxeram um set diferenciado, pois notei que apenas eles (dentre todos os artistas do main) focaram em tracks de progressive house no estilo “Groove Cartel”. Dito e feito: droparam o incrível último release do Kryder, You & Me – que soou de modo “insano” no soundsystem do Ultra. Também foi memorável quando tocaram “Sebastian Ingrosso – Dark River (Axwell Remode)”, versão que raramente está presente nos mainstages. Dash Berlin também me surpreendeu, alternando progressive com trance – tirando algumas do fundo do baú inclusive, como a “In my Mind”.

Steve Aoki para mim foi “o cara” do do segundo dia de festival. O set dele foi parecido com o do Tomorrowland Bélgica, mas ainda melhor. No Tm Be, em cerca de 45 min de set, ele focou na filmagem do clip de uma track dele, e consequêntemente morgou muuuuito o set. No Ultra foi diferente, aos 45 minutos ele manteve o ritmo, com muitos drops de trap, bass, dentre outros estilos. Foi muito bom ouvir de novo tracks consagradas do artista como “No Beef” e “Boneless”.

Por fim, Hardwell trouxe um set recheado de drops no estilo do qual é ícone: o bigroom. E o final você ja sabe (e deve ter acompanhado em nossa fanpage do facebook): nosso amigo Hardwell solta “João Brasil – Michael Douglas” – isso mesmo, todo o show pirotécnico de encerramento do Ultra Rio foi ao som dessa obra contemporânea, com todos cantando: “Nunca mais eu vou dormir!” – tem como ser mais inusitado? Haha!

 
Considerações Finais:
 
Vamos, portanto, sintetizar o que foi o Ultra Music Festival Rio. Houve muitos pontos positivos, como o lindo palco, o ótimo soundsystem e o line, que trazia grandes nomes não só do mainstream, como foi comentado aqui, mas também do techno e do house, como Nicole Moudaber, Carl Cox, ANNA, Matador, Pan-Pot, Steve Lawler, Tale of Us, Renato Ratier, entre outros. A música (ainda bem!) com certeza foi o ponto alto do festival, feito para vários gostos com uma curadoria artística de tirar o chapéu. De pontos negativos, temos a desorganização em alguns aspectos (banheiros, sinalização, filas demoradas), o sistema cashless falho, os altos preços. Todavia, temos que dar um desconto à organização, visto que foi claro que muitos entraves burocráticos dificultaram o planejamento da realização do festival – e isso teve como consequência algumas falhas na logística de sua montagem e execução. Apesar disso tudo, para mim, o Ultra Rio conseguiu cumprir o que prometia: trouxe uma verdadeira experiência Ultra para o Brasil, com um line incrível e uma cenografia (no mainstage!) de cair os queixos! “Chupa” Iphan!

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