Por: Gabriela Loschi e Léo Trivisan
Quando você fica com aquela música na cabeça, vê uma cor em demasia, quando fala demais sobre determinado assunto ou escuta uma vertente se sobressaindo às demais, quando um artista está em todas ou a mesma pose aparece em fotos distintas, e tantas outras coisas por aí que se repetem, repetem, repetem… isso é Hype! (vamos usar a palavra Hype com letra maiúscula para realçar – ainda mais – o seu sentido).
Hype é um termo em inglês que se atribui ao exagero (não é a toa que vem daquela figura de linguagem exageraaada, a hipérbole). Falando em marketing, é uma das ferramentas para fixar determinada marca ou produto, seja com uma ação específica ou serviço (para os marketeiros, algo dentro do posicionamento). Agora para os social medias de plantão… é o auge!
Mas qual a relação que temos disso com o entretenimento? Afinal esse é o nosso foco, certo? Certo! Deejays, produtores, promoters, fotógrafos, jornalistas, designers e entusiastas que trabalham no meio musical, cada vez mais têm sido cobrados por conteúdos originais, porém, ainda mais em um mundo globalizado, reinventar a roda não é pra qualquer um. Já dizia Chacrinha: “Nada se cria, tudo se copia”!
Tá. Mas o Hype entra aonde nessa história?
Primeiro vamos analisar: como nasce um Hype?
Podemos começar com essa frase dita pelo Chacrinha mesmo: “nada se cria, tudo se copia”. Ela é bem Hypada, não acham? Viralizou e não foi à toa. Além de conter uma certa polêmica, pois o apresentador estava se referindo aos programas de TV, ela se encaixa bem em qualquer outra situação. Porém, ao afirmar tal coisa, Chacrinha também “copiou” a ideia desta pérola: “Na natureza nada se cria, tudo se transforma”, de Lavoisier sobre o princípio da conservação de massas. O “pai da química moderna” foi, portanto, também o pai dessa frase “Hypada” que ganhou vida – e outros sentidos – através dos livros de escola (e da relevância das descobertas de Lavoisier, claro) e posteriormente recebendo uma bela força – aqui no Brasil – de outro fugurão, o Chacrinha. E olha que naquela época ainda nem tinha internet…
Com o advento da internet, o Hype ficou ainda mais Hype! Memes, selfies, ondas de Facebook que vão e vem… é, as mídias sociais hoje são armas poderosas de viralização – e também perigosas, pois tudo está cada vez mais imediatista. Ou seja, ondas mais curtas. E a história meio que se inverteu: hoje as redes sociais são ditadoras de tendências, pautam grandes mídias. Mas a recíproca também é verdadeira: veículos de comunicação, livros, rádio, TV, cinema, qualquer forma de transmissão de pensamentos e ideias, e que pode ser um propagador e potencializador de ondas, possuem importância gigantesca no mercado. Eles validam o Hype e o multiplicam.
Para alguns músicos, o auge é justamente ver sua música encapsulada pela indústria cultural de massa, sendo tocada aos quatro ventos (rádio, TV, internet e no chuveiro, por que não?). Ou seja, aquela música HYPOU, e isso é visto como algo positivo para quem a produziu e busca a visibilidade, crescimento. Mas há um porém: se Hypou, é porque sua divulgação já está exagerada, e aí…
Quem lembra da música abaixo? Foi uma das precursoras do movimento “deep house” em Curitiba e no Brasil a fora, tocou até em rádio, em 2012 / 2013. Aliás, o que foi esse Hype de “deep” no Brasil, em?
Essa questão tem dois lados. Se Hypar é positivo para a visibilidade e muitos outros fatores mercadológicos, ele também faz com que as pessoas facilmente enjoem daquele produto. Lembra do Solomun quando começou a vir ao Brasil?
Essa música, independente de sua qualidade – e da qualidade do artista em questão – passou do amor ao “pelo amor de Deus tira isso” pra quem não aguentava mais ouvir falar nela – mesmo quem curtia no começo. Era tanto Hype em torno dele – demorou bastante tempo pra passar até – que, se de um lado ele ganhava cada vez mais público, de outro ele perdia aqueles que o acompanharam no princípio. Já viu essa história antes? Sim, o Hype desgasta imagens.
Ainda mais se for aquela coisa bem chiclete que não sai da sua cabeça de jeito nenhum – um Hype nada interessante. Como esse:
Pro bem ou pro mal, o Hype é uma evolução natural das coisas e isso sempre foi assim. Ele identifica algo que está na moda, que é tendência, que está sendo muito falado.
Para um designer, é criar algo novo onde ele possa capitalizar determinadas ideias e gerar tendências sendo um Hype criativo. Porém, ter suas ideias copiadas e mal feitas por terceiros pode não ser um Hype bacana se banalizar algo grandioso. Veja este exemplo.
Para um social media, é ver seu conteúdo viralizar, recebendo curtidas e compartilhamentos, vendo o Hype “orgânico” acontecer. O problema é quando a brincadeira ou o conteúdo se torna tão comum, tão viralizado, que o timming se esgota, se torna chato. Aí dale criatividade para criar um novo Hype… isso acontece com a música também.
Constantemente aquilo que foi “Hypado” e caiu no gosto das massas, incomoda aqueles que aproveitaram a novidade antes da galera. Algo que era de poucos, de repente se tornou de muitos. Ou melhor, não tão de repente assim, pois uma onda de Hype musical pode levar aí uns anos até fazer o crossover, dependendo do público estar preparado ou não para recebê-la, e do potencial do produto de ser absorvido, claro. E isso nem sempre está relacionado à qualidade.
Mas por que isso incomoda? Não é legal, por exemplo, ver elementos de uma cena mais underground crescendo no Brasil? Gira mais pessoas, gira mas dinheiro, mas fato é que aquilo não será mais como era antes. Por inúmeros motivos. Quando um produto nasce, ele é inovador em forma e gênero. Aqueles que o criaram o fizeram com um propósito e aos poucos, olhares e ouvidos atentos, aquelas pessoas que se aprofundam mais em suas pesquisas, descobrem sons e histórias fantásticas sendo criadas em algum lugar do mundo. A não ser que o produto já tenha sido criado com a intenção de ser um Hype mainstream, de ir pras rádios e estar acessível às massas, grande partes das ondas nascem mesmo da cena alternativa.
Quando essa coisa passa a agradar um número maior de pessoas e cresce por todos os lugares, mais gente começará a fazer (como produzir um som) parecido, e é aí que mora o “problema”. Aquela áurea inicial e exclusiva se foi, ganhou dimensões novas e se torna enjoativa para aqueles que já estão em contato com o produto Hypado há mais tempo, pelo fato de se tornar comum e pouco inovador, mas também porque outros elementos mais acessíveis e distorcidos da proposta inicial entram em campo. Nem todo mundo cria algo porque acredita em sua essência, certo? Muita gente surfa nas ondas quando identifica ali um potencial, e isso incomoda muita gente, mas é a ordem natural das coisas. Faz a roda girar. Aqueles primeiros pesquisadores começam a buscar outras referências, outros trabalhos. Novidades, inovação.
Como todo bom ciclo mercadológico, todo produto uma hora deixa de ser Hype, e da espaço a outros Hypes.
O termo, no final das contas, pode carregar sentidos bons ou ruins.
É o que está acontecendo agora com alguns estilos musicais. Aquele deep house que comentamos lá em cima, ficou muito Hype, né? Já deu seu tempo. Qual é a bola da vez? O techno sem dúvida é uma delas. É bom lembrar que muitos “filhos da EDM” hoje começam a curtir techno. EDM foi Hype durante anos, enjoou, mas trouxe pessoas novas à cena que hoje buscam diferentes sonoridades. A própria EDM está se reinventando e encapsulando estilos como o disco – que já pode ser sentido em algumas produções do Oliver Heldens, por exemplo, um grande lançador de Hypes – quem aí curte future house?
Por outro lado, muita gente passou a conhecer sonoridades que vêm entrando cada vez mais no Brasil, como este outro movimento crescente na cena underground brasileira, o minimal. E o som romeno. Festas como a Subdivisions em São Paulo e a MINIM em Florianópolis exploram o gênero que atraem ouvidos dispostos a explorar a “minimalidade”, que inclusive ganhou espaço em uma nova festa em São Paulo recentemente, a Serialism. Até o Warung esses dias trouxe Petre Inspirescu, um dos pais do minimalismo romeno, através do Resident Advosor. É um Hype pontual, que já viaja há tempos nas pistas mais exigentes do mundo, mas Hypou em uma ponta da cena brasileira agora.
E a bass music, na outra ponta, que invadiu as pistas no final de 2015? Continua em alta, sem dúvida, com toda a sua pluralidade – festas como a Michael Deep não nos deixam mentir. O funk carioca virou Hype também para alguns artistas que buscam refrescar suas batidas, e não está apenas no Rio Music Carnival com o Balie do Denis – veja isso aqui. E brasilidades… Já podemos dizer que música brasileira voltou pro Hype? Hype no Beatport hoje é tech house, e parece que o progressive vai ganhar força…
Bom, poderíamos nos aprofundar melhor nessa questão de estilos e gêneros Hypados e artistas lançadores de tendências hoje no Brasil e no mundo, e prometemos fazer isso em um próximo artigo, mas não poderíamos terminar este sem falar do Hype mor: o Brazilian Bass. Fato é que alguns artistas, antes adeptos a esse movimento polêmico e massivo, descobriram que podemos ter nossos próprios pop-stars brasileiros produzindo um som eletrônico mais comercial e radiofônico.
Se Alok conseguirá puxar esse Hype, ainda não sabemos, mas a tendência é forte, principalmente depois que “Hear Me Now” entrou entre as 50 músicas mais ouvidas dos Estados Unidos e em primeiro lugar no Spotify brasileiro. E no país Hypado pelo sertanejo, ficaremos de olho nos próximos Hypes, ou melhor, desdobramentos.
Cat Dealers também está indo por esse caminho do pop-eletrônico… Quem serão os próximos hit-makers?
Mas esse é um assunto para nosso próximo artigo da série HYPE. Porque sim, queremos criar o HYPE aqui nessa revista HYPADA – haha, não resistimos, mas a série vai rolar, fiquem de olho ;)
Mas tudo isso não faria sentido sem a seguinte ponderação: as pessoas possuem seus Hypes particulares, de acordo com suas pesquisas, sua vida, seu tempo. Existem fortes tendências massivas, tendências de nicho, como pontuamos algumas acima, e tendências que farão mais sentido para um ou outro.
Queremos saber: qual é o seu Hype do momento?