Vale mesmo a pena entrar em uma agência de DJs? Saiba qual é o seu papel

Por: Gabriela Loschi

* matéria publicada na House Mag impressa #42

Você vai pra balada, aprende a mixar, estuda, faz contatos, toca em festinhas, a coisa começa a ficar séria e sua cabeça agitada: Fazer faculdade? Investir em produção? Focar somente na música? Da futuro? Vou conseguir uma agência?

Primeiro: hoje um DJ precisa muito mais do que música para chegar lá (mas claro que sua arte é o seu bem maior e determina sua permanência no mercado). Aí entram outros profissionais, incluindo as agências, que, como explica Priscila Prestes, sócia-proprietária da 24bit Management, “organiza e vende as datas dos artistas, procura clientes, cuida da logística e da parte burocrática e faz com que contratos e pagamentos sejam cumpridos“.

Mas os benefícios podem ir além: “Buscamos gigs que combinem com o perfil de cada artista. Temos um bom relacionamento com a maioria dos clubs no Brasil”, conta Priscila, cuja agência também é responsável pela curadoria do Club Vibe e do festival Tribaltech. “Conhecemos pessoas internacionais, e aproveitamos essa abertura com nossos artistas”, completa.
 

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Priscila Prestes, sócia-proprietária da 24bit Management

Agências têm contatos, conhecem o mercado. Bom para DJs como Emílio Tarter que, ao entrar para a D Agency, afirmou: “Conseguimos fechar festas legais após o anuncio da minha entrada na agência”; agência esta que pertence ao Club D-Edge e tem os selos D-Edge Records, OLGA, o Estúdio Bossa e showcases e festas pelo país, o que abre um leque de possibilidades e gera identificação entre público e DJs de uma linha artística: “Buscamos artistas com as características da nossa plataforma, e que tenham muita vontade e garra para crescer junto com a gente!”, afirma o supervisor de vendas e marketing da D.AGENCY, Stefano Cachiello.
 

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Stefano Cachiello, supervisor de vendas e marketing da D.AGENCY

Autenticidade é característica fundamental para a maioria das agências. “Buscamos jovens talentosos, trabalhadores e acima de tudo originais. Nossa prioridade é achar o espaço do artista no mercado, reverberar o seu trabalho, e ajudar no seu crescimento”, entrega Silvio Conchon, sócio-diretor da Plus Talent, que nasceu da fusão da Hypno, já foi 3PLUS e é uma das maiores do país.

Mas se você sonha em entrar em uma agência grande para deslanchar, saiba que ela não resolve a vida. “Tem que ter empenho, responder email, estar em contato com o seu agente, gravar sets, responder entrevistas, gerar conteúdo para trabalharmos em cima”, avisa Priscila Prestes.

Rodrigo Vieira, aos 35 anos de carreira artística, já passou por cinco agências e trabalhou com as maiores empresas de entretenimento do mundo. Ele sabe muito bem que, para “dar certo”, tem que arregaçar a manga: “é preciso ter boa relação com o booker, manter diálogo, fazer seu próprio marketing, se atualizar, fazer música, tirar foto, se mexer, se não, nada acontece”.
 

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Silvio Conchon, sócio-diretor da Plus Talent

O trabalho casado artista + agência é algo essencial, por isso é muito comum haver troca de representação. Dieguinho Moura, por exemplo, já foi do casting de uma grande agência: “mas faltava atenção dos bookers e proximidade. Decidi ir para uma menor, com menos artistas e sem casting internacional. Estou satisfeito. Eles gerenciam a parte burocrática e fazem coisas criativas, como Podcasts, newsletter, gravação e distribuição de CDs”, conta o DJ paulistano.

HÁ CASOS E CASOS

Se encontrar a sua “casa” e se sentir confortável nela é importante, há quem opte por cuidar da própria carreira sem uma agência por trás. É o caso do Gui Boendia, que foi convidado (lembre-se: você não vai atrás da agência; a agência vai atrás de você) para integrar uma das maiores agências do país ao se tornar residente de um grande club: “Mas ela vendia sempre os mesmos; é difícil um DJ em início de carreira subir. Eu mesmo arrumava minhas gigs e tinha que dar a porcentagem deles; até que resolvi sair”.

Ele diz continuar com o mesmo número de gigs e 100% do seu cachê.

A porcentagem recebida pela agência varia de 20 a 50%, dependendo do caso e do trabalho realizado.

Mas e quando não há management nem marketing ou posicionamento envolvido, e o artista consegue suas próprias gigs, o que seria mais justo?
 

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Gui Boendia

O DJ Meme, que já passou por agências importantes nacionais e internacionais, tinha um acordo especial com sua última agência: “deixe o DJ com seu dinheiro total quando ele mesmo conseguir um booking para determinada gig, e pague mais que 20% (eu dava 35%) quando o trabalho de conseguir a gig vier da agência. Resolvido! E faz o booker trabalhar mais, pois sua porcentagem aumenta”.

Hoje ele é representado por uma personal manager, a Mariana Verzaro, que explica a diferença: “Pra quem não é muito conhecido, estar em uma agência de nome pode ajudar, mas o trabalho do personal manager é bem mais focado. A agência não consegue trabalhar bem todos os seus artistas. A venda de internacionais é lucrativa, mas por conta disso, algumas acabam focando muito neles, e acho um problema, pois não valoriza os daqui. Assim como focar só nos artistas brasileiros que estão bombando atualmente…”, pondera Mariana.

A competitividade é alta e se não é fácil entrar em uma agência, encontrar um bom manager tampouco. “É uma missão ingrata para quem está começando. Vejo muitas agências enxugando o seu casting”, afirma Rodrigo Vieira, que aos 35 de carreira também tem uma personal manager, mas, ao contrário do Meme, continua com uma agência por trás: “Tenho uma relação ótima com a minha família (a agência), mas eu poderia viver sem, pois minha mulher, que é minha personal manager, me vende muito bem e muitas vezes bate a agência. Mas é trabalhoso lidar com o lado financeiro, venda, pagamento, recebimento, contrato, cobrança de dívidas. Então acho que vale a pena pagar uma porcentagem para a agência cuidar de tudo isso”, confessa Rodrigo Vieira.
 

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Rodrigo Vieira

Para Meme, trabalhar com um personal manager é o que mais da resultados: “O manager talentoso é a peça que faltava para resolver a questão das agências estarem cuidando de outras coisas, como eventos, por exemplo, e fazendo com que os DJs corram atrás dos seus próprios bookings”, opina.

Por outro lado, em tempos de crise, alta do dólar e instabilidade econômica, produzir eventos parece ser uma boa alternativa para o negócio e para os DJs brasileiros, que aparecem cada vez mais em destaque. “Fazer festas é positivo para a agência, pois ela pode fechar pacotes anuais, por exemplo, e ir colocando seus artistas. Aumenta muito a renda e as gigs dos DJs. É uma vantagem que as agências têm em relação aos managers”, considera Mariana Verzaro, que já trabalhou em agências importantes.
 

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Mariana Verzaro e DJ Meme

Mas se agências e artistas saem ganhando com seus eventos, e pro mercado? É positivo? Depende! “O fato das agências estarem fazendo eventos me perturba um pouco, pois elas estão meio que puxando a sardinha e sendo parciais”, questiona Rodrigo Vieira, e completa: “A agência X vai lá, faz um festival e só tem DJ dela. Aí a outra vai lá e faz a mesma coisa. Ficam se digladiando. Você não vê isso lá fora. Nos Estados Unidos a atitude das grandes é outra. Vê se X faz festival e bate de frente com a Y. São todos amigos, estavam se abraçando no Ultra Miami, inclusive. No Brasil, se cruzar na rua, atravessa pra não ter que cumprimentar. Então eu olho e fico pensando: Aonde isso vai parar?“.

O caminho é longo e, como em qualquer profissão, exige dedicação, entrega e competência, seja em uma agência, seja com um manager, seja como for. Faça o seu trabalho, apareça, ganhe destaque, e, principalmente, produza e lance as músicas ou foque no aprimoramento das suas técnicas como DJ, na sua pesquisa musical, no seu diferencial. Logo mais você tem grandes chances de receber uma proposta!

 

 

 

 

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