Todas as facetas de Pedro Turra aka Click Box, em uma entrevista exclusiva e cheia de novidades


Por: Camila Giamelaro

No meio da música eletrônica não é difícil encontrar pessoas multitarefas. Muitas vezes essas pessoas trabalham em mais de uma área por falta de visibilidade ou chances no mercado. Mas no caso de Pedro Turra, a.k.a. Click Box, esse é o seu perfil mesmo, por amor pela música. E é muito amor!

DJ e produtor há mais de 15 anos, Pedro Turra carrega consigo uma trajetória de inúmeros sucessos, diversos projetos e empreendimentos. Além do Click Box, único projeto brasileiro a lançar músicas pelo renomado selo Minus de Richie Hawtin, hoje ele se apresenta também como DRO-P e logo mais lançará uma banda com mais dois amigos. Com sua faceta empreendedora, Turra está a frente de um selo musical, uma label party e um estúdio musicallocalizado no coração de São Paulo.

Batemos um papo com esse cara pilhado e super criativo pra conhecer um pouco sobre a sua origem, sobre seu momento atual na carreira e o que podemos aguardar no futuro de todos os seus projetos.

 

HOUSE MAG – Antes de falarmos sobre o presente, seria muito legal conhecermos um pouco do seu passado. Como surgiu o projeto Click Box e como foi a sua trajetória artística até os dias atuais?

PEDRO TURRA – Primeiramente eu gostaria de agradecer a vocês da House Mag pela oportunidade de mostrar aqui mais um pouco do meu universo em geral! Vamos lá :)

Minha carreira na música começou bem cedo quando eu era ainda criança, em 1994/95, e nessa época comecei a tocar profissionalmente como DJ. Após alguns anos veio a vontade de produzir. Na época eu fazia um programa de techno na rádio Metropolitana FM e meu amigo Bunnys (da escola DJ Ban) que era o locutor me colocou pilha e me aconselhou como eu devia começar. Comecei com um controlador MIDI e logo na sequência veio minha paixão por sintetizadores analógicos. Foram anos de estudo e em 2003 iniciei o Click Box. Passei um ano inteiro gravando e eu mostrei esse disco pela primeira vez para poucas pessoas, me lembro de dar um CD para a Claudia Assef que entregou para o Dudu Marote; lembro que o Dudu pirou e foi por causa desse CD que nos conhecemos e nos tornamos amigos. Logo na sequência, como eu e o Marco sempre fomos muito amigos, eu o convidei pra fazer parte do projeto. Montamos um Live e estreamos em novembro de 2004, em uma festa que fiz dentro de um puteiro na Rua 7 de Abril e definitivamente aquele foi um dos melhores sets do Click Box. A partir daí começamos a lançar tracks por alguns selos digitais e em 2006 o Click Box foi convidado pela Magda para fazer parte da família Items & Things, que na época ainda era um sub selo da Minus. Em 2007 saiu o primeiro vinyl do Click Box e em 2008 o Richie Hawtin convidou o Click Box para fazer parte do time principal de artistas da Minus, ondetenho inúmeros discos lançados. Além da Minus tive oportunidade de lançar em vários selos legais ao redor do mundo como Trapez, Superfreq do lendário MrC, Noise Music, NOSI, Unique Community, Kassete Records, Amazing Records, Ninefont, Perception Corp, entre outros. Rodei o mundo nos principais Clubs e Festivais de techno.

Em 2014 por uma decisão mútua, eu e o Marco decidimos encerrar nossa parceria no Click Box, pois os caminhos musicais estavam seguindo lados diferentes: eu querendo me manter no techno e ele buscando por algo mais pop. Nós até chegamos a trabalhar juntos no início do Bleeping Sauce, banda que hoje segue formada pelo Marco e Eli, e lançamos 1 disco (Stories EP) pelo selo francês MEANT RECORDS, do meu amigo Remain. Com a separação eu fiquei com o Click Box, o qual eu já tinha começado sozinho, e ele com o Bleeping Sauce.

Com essa mudança veio meu novo live da turnê que fiz esse ano, a Things Live Tour. Graças a esse live e toda essa bagagem fui nomeado pelo Beatport como o 5º melhor artista para ser bookado na América do Sul, ao lado de nomes como Stefano Noferini, Gui Boratto, Luciano, Damian Lazarus, Tale Of Us, Recondite, entre outros. A turnê “Things Live” foi muito legal e me apresentei em mais de 10 países. Foram 20 datas ao todo, sendo 8 datas a mais do que eu tinha planejado. Hoje estou junto da Roland & Ableton montando a nova turnê para 2017, com um novo setup, novas músicas, tudo novo. Enquanto isso continuo me apresentando como DJ e com o live básico do Click Box. Uma das coisas legais que também rolaram nesses últimos 16 anos foi a participação na pré produção dos últimos 3 discos do Jota Quest, isso foi uma experiência bacana, pois pude colocar minha estética techno, a sonoridade do Click Box dentro no universo da música pop com programações de algumas baterias eletrônicas, arranjos, linhas de synths, enfim, além disso sou muito amigo de todos da banda, foi muito legal, aprendi muito com os caras!

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HM – Hoje o Pedro Turra é o cara por detrás de diversos projetos além do Click Box, conta um pouquinho pra gente como surgiu a oportunidade de criar esses novos projetos e quais as diferenças de sonoridade de cada um. 

PT – Eu nunca gostei de ficar parado e me limitar a uma única coisa. Talvez antes quando éramos em dois eu acabava me limitando um pouco ao Click Box ou em projetos que sempre estávamos os dois envolvidos, mas depois da separação ficou melhor e mais fácil pois depende apenas da minha decisão. Então eu comecei a explorar mais meu lado musical, com isso iniciei um projeto mais ligado ao micro house, o Dro-P. Já fiz um lançamento pela gravadora de NY NOSI e outro pela Inglesa Wavetech Limited, agora em 2017 tenho mais releases para sair.

Comecei também este ano uma banda de música eletrônica direcionada para o electro ao lado dos meus amigos Marcos Taga e Clara Moreno. Ainda não decidimos o nome da banda mas já temos umas 12 músicas praticamente prontas, hahahahaha. No início do próximo ano começaremos a gravar os vocais.

 

HM – Todos eles terão o formato LIVE de apresentação?

PT – Sim, em todos vou me apresentar como Live & DJ, o único que será somente Live será a banda com o Taga e a Clara.

 

HM – Além de todos os projetos como artista, você também trabalha em diversos projetos paralelos, como a Timbral Records, a festa Crib, a A-Gandaia e vamos falar sobre cada um deles separadamente mais pra frente. A questão é: como você dá conta de tantos empreendimentos?

PT – Sou ligado na tomada 24h por dia e minha paixão pela música faz com que eu tenha energia de encabeçar cada dias mais coisas relacionadas a música.

A Timbral é minha gravadora junto dos meus amigos Felipe Charret e Felipe Lobão. Com ela estamos buscando algo como uma boutique musical, um lugar que podemos lançar músicas que gostamos. É um bebê que dedicamos muito amor e carinho e tenho visto que graças a esse amor e por ser algo real que não visa fins comerciais nós estamos tendo um ótimo respaldo dentro da cena techno underground, artistas como Paco Osuna, Agoria, Bodeler, Ariel Rodz, Ronan Portela, Troy Pierce, Chole, Mau Mau, Deep Mariano, Anderson Noise, Renato Cohen, Jonas Kop, Terry Francis têm dado suporte e tocado as músicas do selo.

A Crib é minha festa que faço junto do meu amigo e produtor de eventos Rodolfo Tavares desde 2001, tivemos um gap devido a falta de tempo e também por eu ter ficado de 2008 a 2012 em longas viagens pelo mundo. Em 2014 nós nos juntamos com a agência PLAY / GRP8ITO, a qual cuida de toda produção da festa e nós dois do artístico; fizemos algumas edições até agora e em 2017 voltaremos com força total.

A  A-Gandaia é minha produtora de áudio, junto do meu sócio Fernando Ricardo que trabalha no mercado de eventos corporativos. Na A-Gandaia prestamos soluções musicais para o mercado publicitário, cinema, moda, eventos e também mixamos e masterizamos artistas de todos os gêneros musicais, ultimamente eu tenho mixado o conteúdo musical do selo de Munich Pastamuzik e mais alguns outros artistas da cena techno. Também é meu estúdio, onde eu passo a maior parte do tempo, minha sorte é que minha esposa trabalha comigo, então a gente acaba se vendo, caso contrário, íamos nos ver muito pouco, pois fico de 12 a 16 horas por dia lá dentro trabalhando e quando não estou lá, estou viajando e tocando.

Lançamento Mercedes Benz GLA from A-Gandaia on Vimeo.

 

HM – Você atua como curador musical do seu próprio selo, no qual recentemente você fez o lançamento do EP “Kontrol”. O que você busca em termos de novidades para a Timbral Records? O que um artista precisa ter pra lançar com você?

PT – Sim, acabo de lançar o “Kontrol” que está indo muito bem! Ainda não tinha lançado um EP meu, na minha própria gravadora, está sendo legal essa experiência, pois da mesma maneira que eu, junto dos meus sócios escolhemos músicas dos outros artistas, desta vez tivemos que escolher músicas minhas e foi difícil hehehehe. Por mais que o selo seja meu, eu escutei minhas próprias músicas com os mesmos ouvidos clínicos e críticos que escuto as dos outros artistas na hora de decidir um release. Tem muita gente por aí que abre gravadora para usar de plataforma para seus próprios releases, não é errado mas nós nunca tivemos esse foco, tanto é que esse é meu primeiro EP e o Charret também ainda não lançou nada por lá; já o Felipe Lobão é quem cuida de toda a comunicação do selo. A Timbral, como disse anteriormente é uma boutique musical, não estamos presos a estilos ou estética ou big names ou afins. Queremos lançar música que gostamos, música boa, é simples assim: escutamos e se gostamos, lançamos. Uma coisa que posso adiantar é que sempre buscamos fugir do convencional, isso já é meio caminho andado para lançar na Timbral.

 

HM – Aqui em São Paulo você leva a Crib para alguns dos clubs mais legais da cidade. Qual o conceito da festa? Você pretende fazer dela um evento itinerante?

PT – A Crib funciona também nos mesmos moldes da gravadora, fugimos do convencional, do normal, da zona de conforto, da mesmice, da panela, sabe? Desde 2001 buscamos trazer techno e house underground para o nosso público, às vezes fazemos em clubs, às vezes em casas, às vezes em algum lugar X, ou mesmo em um puteiro, ou dentro de um apartamento. Esse que é o negócio da festa, não temos fórmula, ou melhor temos sim uma fórmula que é: trazer artistas que toquem música boa + dar estrutura ao nosso público em um lugar que seja seguro e bacana + um bom sound system = DIVERSÃO. Sim, em 2017 vamos fazer festas com mais frequência.

 

HM – Conta pra gente um pouco do seu trabalho no estúdio A-Gandaia. Quais os principais serviços que você oferece e como você integra a música eletrônica no mundo corporativo.

PT – Lá é meu laboratório, lugar onde passo a maior parte do tempo, fazemos todo tipo de trilha, desde publicidade para TV, rádio e internet, até trilhas para cinema. Mixamos e gravamos outros artistas, também tenho produzido outras pessoas, bandas, às vezes DJs, enfim. Studio life porém sempre tentando dar um toque especial de música eletrônica em tudo que sai de lá. Já consegui colocar o toque do Click Box até em propaganda da Konica Minolta com veiculação no Japão e Europa, o ator do filme era o Ronaldinho Gaúcho tocando uma bateria! Uma coisa muito legal é que eu tenho bastante synths na produtora e às vezes tem até uma galera que vai lá, aluga o estúdio para timbrar as músicas com os analógicos. Aonde tiver música ou sons estamos envolvidos.

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HM – Depois de tudo isso apresentado pros nossos leitores, dá tempo de produzir? Quando teremos mais novidades dos projetos do Pedro Turra por aí?

PT – Parece impossível ou até engraçado mas depois que eu me transformei em 1 tenho tido mais tempo pra tudo, lancei mais discos do que nunca, trabalhei com outros artistas, fiz collabs, consegui voltar com a minha festa, voltei ao mercado publicitário com força total e coloquei foco na minha gravadora. Faço música quase todo dia, nos intervalos dos jobs, na hora que acordo ou antes de dormir, às vezes na estrada, no avião, no hotel, enfim, qualquer hora é hora!

Tive um imprevisto na minha vida esse ano que foi um acidente em uma das festas que fui tocar, por falta de estrutura e segurança no local da festa, com isso fui obrigado a cancelar minhas turnês na América do Sul, Central e Estados Unidos – mais de 30 gigs que seriam realizadas em 3 meses. Tive até que me afastar do estúdio, foi um inferno porém um dia me deu na telha e pedi para o meu amigo Cyro que trabalha comigo no estúdio trazer todos os synths pra eu trabalhar na minha casa. Minha esposa montou tudo na mesa da sala, coloquei um par de monitor e com isso me deu tempo de sobra para fazer música nova. Fiz em torno de 22 faixas sem contar as diferentes versões de cada uma delas, foi uma das fases mais produtivas em minha vida. Trabalhei em casa 24/7, foi minha válvula de escape e com isso um dos piores momentos da minha vida se tornou um dos melhores na questão de criatividade. Acabo de finalizar metade delas no meu estúdio, mixei tudo analógico e já assinei grande parte delas com selos bem legais. De 10 já se foram 8 das quais 6 vão sair em Vinyl, 4 vou lançar como Click Box e as outras duas como Dro-P, as que vou lançar como Click Box vão sair pelo novo selo de Chicago o Silencio Music nos formatos Vinyl & Digital, os caras desse selo têm um conceito muito legal. Uma das coisas que achei bem bacana é que os donos são dois big names de Detroit e Berlin mas ninguém nunca vai saber quem são pois eles querem que o foco seja sempre os artistas / releases e não eles. Já como Dro-P posso apenas dizer que as tracks sairão em um selo muito forte e legal, estou bem empolgado com isso! Além das coisas novas tenho para sair ainda esse ano um EP junto do Remain pela MEANT Records nos formatos vinyl e digital com remixes do Swayzak & Danton Eeprom. Logo no início de 2017 sai um EP pelo novo selo francês Curiosility Music que também será em ambos os formatos, além de um EP pelo selo NY NOSI, mais um EP do Dro-P pela Genial Records com remixes de caras bem legais como RABOTIC & Stefan Dichev, minha collab com o Alexi Delano. Enfim, tem muita coisa, estou até proibido por mim mesmo de não fazer mais música por um tempo pra não encavalar os releases. 2017 vai ser um ano bem busy :) Quem sabe ainda acho tempo para fazer um álbum para o segundo semestre… Seria o primeiro do Click Box!

 
 

HM – Já faz um tempo que a tal “collab” anda em alta. Você pretende trabalhar novas músicas em parceria com outros artistas? Já temos alguma coisa no forno?

PT – Sim, sempre gostei de trabalhar com outros artistas. Gosto desse formato, a experiência da troca de informação, de aprender coisas com o outro, fazer às vezes a mesma coisa que você faz mas de outra maneira, enfim, acho muito legal! Já tive oportunidade de trabalhar com muita gente legal como Marc Houle, quando lançamos juntos um disco pelo Items & Things em 2014, com o Run Stop Restore (Marc Houle, Troy Pierce & Magda), que também saiu um EP juntos de grande sucesso pela Minus, participei de um remix para o Depeche Mode junto da Magda  na parte da engenharia como mix, gravação e também na timbragem dos synths analógicos. Agora no final de novembro sai pelo selo francês MEANT Records meu collab com um dos caras mais respeitados da cena underground francesa, o produtor e DJ Remain. Somos amigos há muito tempo e quando ele veio ao Brasil tocar na Crib começamos a gravar este EP e terminamos agora, na minha última ida à Paris. Ele vive num barco na frente da torre Eiffel, foi uma experiência única produzir com uma vista daquelas! Esse EP como todos os outros foi finalizado no A-Gandaia. Tenho um outro EP que está em andamento com o respeitadíssimo DJ e produtor da cena techno, Alexi Delano. Também em uma das vindas dele, gravamos um disco inteiro em um domingo, depois ele levou para o estúdio dele onde estamos em idas e vindas, em encontros virtuais para terminar, deve sair até a metade de 2017, pelo seu novo selo. Além desses artistas, participei de uma collab com Roy Rosenfeld em uma música para seu álbum, com o Dro-P estou fazendo algumas tracks com Stefan Dichev que já tem planos para sair em vinyl only por um selo bem bacana que ainda não posso divulgar o nome. Para 2017 ainda tenho algumas coisas em andamento bem legais, uma delas é a produção de um EP junto com Anderson Noise.

Enfim, sempre achei legal trabalhar com outras pessoas, como disse essa troca de experiência é super válida! Aprender com o outro é sempre bom.  

 

HM – Quais os planos pra 2017?

PT – Um novo live, uma nova tour, fazer mais festas e além disso, pretendo viajar mais, tocar mais, amar mais, trabalhar mais, estudar mais, viver mais e fazer crescer cada vez mais o Click Box, a minha própria gravadora, o Dro-P, a Crib, o meu estúdio. Fazer de cada dia um dia mais legal e mais intenso que 2016. Tenho certeza que 2017 será um bom ano!


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