Marcio Careca traz em sua essência o feeling do DJ apaixonado pela pista. Confira a entrevista!

Da redação

O DJ carioca Marcio Careca é um dos expoentes de uma geração onde o que realmente importava era música boa na pista. Ele é um dos DJs com maior tempo de carreira em atividade no país e ainda hoje ostenta apresentações por alguns dos principais clubs do Brasil, como D-EDGE, Club 88 e D-EDGE RJ, onde recentemente tocou na festa D-Final Touch, abrindo a pista para Renato Ratier, Seth Troxler e The Martinez Brothers. 

 
Sua história de amor com a música é profunda e revela um artista aberto a experimentações, dono de uma versatilidade poderosa, que faz a pista dançar em diferentes ocasiões. Atualmente, Careca é parte do casting D AGENCY, segue uma rotina intensa de pesquisa musical e se prepara para novos desafios, dessa vez no estúdio. Marcio é, ao lado de Anderson Noise, Sandro Valente e da anfitriã da noite Amanda Chang, atração da Mad Factory, festa voltada ao techno que acontece no Privilége em Buzios, no dia 17 de dezembro. Veja mais informações aqui. 

Conversamos com Marcio e o resultado desse bate-papo que ficou muito bacana, você confere logo abaixo: 

 
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HOUSE MAG – Olá, Márcio! Prazer falar com você. Ao longo dos últimos anos, a cena passou por uma transformação considerável e a música eletrônica se popularizou muito aqui no Brasil. Quais são as principais diferenças que você observa entre o momento atual do mercado em relação à época que você começou a tocar?

MARCIO CARECA – Opa, tudo bem? A internet ajudou muito a difundir a cena eletrônica. Hoje a informação chega mais rápido ao público e isso beneficia a quebra de tabus que rodeiam o assunto, com a ideia de que a música eletrônica é de “maluco drogado”. Outro fator foi os investimentos de produtores em eventos eletrônicos, que ajudam a economia girar, empregando direta e indiretamente centenas de pessoas, como por exemplo, Renato Ratier, que sempre acreditou e investiu fortemente no D-EDGE e eventos ligados a cena. Não podemos esquecer também da profissionalização do DJ nessa caminhada, onde todo o processo envolvido (network, manager, booker e agência), se igualam a artistas de outros gêneros com apelo popular mais forte. Quando comecei, a coisa toda era muito arcaica no Brasil, era difícil o acesso as músicas e equipamentos. Compartilhei há algumas semanas um vídeo sobre uma equipe de som da década de 70 que mostra bem o que estou falando.

 

HM – Você começou a tocar em uma época onde a barreira dos gêneros era praticamente inexistente e o que realmente importava era levar música boa para as pistas. Atualmente, nem tudo funciona dessa maneira, mas muitos artistas ainda conseguem se destacar por conta da pesquisa musical. Como funciona a sua?
 
MC – Sou aficionado por pesquisar e baixar músicas. Sento em frente ao computador todos os dias e baixo no mínimo umas 40 faixas. Não me prendo a gravadoras, artistas A, B ou C, tenho até meus artistas preferidos porém procuro não ficar só em uma linha. Gosto muito de saber o que está acontecendo de novo lá fora e aqui dentro também. Geralmente pesquiso em lançamentos, pré releases e charts e quando encontro uma música ou remix de um produtor que não conheço sempre vou mais a fundo na pesquisa. Ouço muitos sets de DJs nacionais, como Adnan Sharif e Carrot Green, recheados de músicas brasileiras e também sets como o do Marcio S. repletos de clássicos do techno e house. O problema vem na hora de separar as tracks para tocar, acabo levando muito mais do que realmente vou usar, isso se deve a um hábito antigo, já que quando comecei era comum o DJ tocar a noite inteira. Também levo em consideração o horário em que vou me apresentar, local e a própria proposta da noite. Curto também separar uma pasta de clássicos (disco, house ou techno), dependendo da noite, acho demais tocar um clássico no meio do set e ver o retorno da pista.

 
 
HM – Como ser residente de um club como o D-EDGE contribuiu para seu amadurecimento musical? 
 
MC – Ser residente do D-EDGE é uma puta responsabilidade, até por que estou tocando em um clube que é referência mundial, residente da noite mais premiada de São Paulo, isso para mim é uma honra e me fez ver a profissão por uma ótica mais profissional. Mesmo após tantos anos, não tem uma única vez em que vou tocar e não fique um pouco nervoso na primeira música. Outra coisa que me chama a atenção é o conhecimento musical de quem toca no D-EDGE. Você tem que estar antenado com o que está rolando e o que rolou no mundo da música de um modo geral, a prova disso é a Grace Jones, um ícone dos anos 70 como atração principal no aniversário de 16 anos do clube. A ideia do D-EDGE é não se prender a rótulos e isso me fez crescer como DJ.
 

HM – Você possui sua carreira bastante ligada a cidade do Rio de Janeiro. Como você enxerga o momento atual da cena por aí? O que falta para a cidade se tornar um grande polo da música eletrônica no país?
 
MC – Vejo a cena do Rio crescendo bem rápido. Ficamos um tempo em hibernação, perdemos espaço por conta de uma série de fatores que não valem a pena serem citados. De uns 10 anos para cá a situação começou a melhorar sensivelmente. Tivemos e ainda recebemos eventos das maiores labelpartys do mundo. Também temos anualmente o RMC (Rio Music Conference), idealizado pelo Claudinho que ajuda a difundir a cena eletrônica como um todo com conferências, estimulando o networking e a troca de conhecimentos entre todos. Festas como Rio Me, Warung Tour, NOON, Ultra e clubes como Privilegé, sempre investem forte em artistas que até pouco tempo não imaginávamos de tê-los aqui na cidade. Também estamos perto de realizar um sonho de todo clubber carioca, a inauguração do D-EDGE Rio. Artistas de peso passaram por aqui nos últimos meses nas festas Raww x Room e Underconstruction e We`re Coming D-EDGE, como Konrad Black, Hito, Richie Hawtin, Joseph Capriati e Paul Ritch. O local será um complexo cultural de quatro andares que envolverá música, arte, moda e gastronomia em um só lugar. Esse complexo irá colocar definitivamente o RJ em uma posição privilegiada no mundo da e-music, não só no Brasil, mas no mundo realmente.
 
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HM –  – Fale um pouco sobre sua experiência tocando no exterior. De uma forma geral, quais são as principais diferenças que você observa no público de fora quando comparado ao brasileiro? 
 
MC – Toquei entre 2002 e 2007 em cidades na Alemanha, Amsterdam e rolou uma esticada em Paris. A grande diferença naquela época era a maneira de como público de lá se divertia na pista, desligando-se de rótulos, antenado ao seu DJ favorito e onde ele iria tocar, já tinham uma visão do DJ como artista. Isso até acontecia em alguns locais do Brasil, mas não como vi lá fora. Hoje em dia sem sombra de dúvidas essa diferença diminuiu e muito, com um público jovem com sede de conhecimento, tendo seus ídolos nacionais e internacionais e que quando se encontra na pista realmente se diverte. Isso se deve ao crescimento da cena como um todo, com grandes artistas nacionais como Renato Ratier, Leo Janeiro, Flow&Zeo, Victor Ruiz, Bruce Leroys, Mumbaata que fazem um trabalho sério e tornaram-se referência difundindo a música eletrônica e pouco a pouco diminuindo essa diferença.
 

HM – Você é um dos cabeças da Bootleg, certo? Fale um pouco a respeito da história da festa e dos principais aprendizados que você teve com ela.
 
MC – A Bootleg já tem 12 anos de estrada. Fui o último a entrar na sociedade que conta com os brothers Leo Janeiro, Jonas Rocha, Marcelo Abreu e João Paulo. Quando eu apenas tocava na festa não percebia a visão do produtor de evento, agora a preocupação envolve fazer a festa acontecer, divulgação, curadoria, fornecedores e etc. Isso me fez entender o lado do produtor, situação que não passava pela minha cabeça qdo eu participava apenas como DJ. O curioso disso tudo é que mesmo sendo trabalho, você se apega a festa e cria um vínculo de amor com a marca. É um estresse tremendo, mas ao mesmo tempo é recompensador e gostoso demais. No fim de tudo você alcançar os objetivos e firmar a marca no mercado é gratificante.
 
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HM – Em termos de futuro, o que podemos esperar do Márcio Careca?
 
Completo 56 anos dia primeiro de novembro e comecei por amor a música aos 16 anos. A ideia é me aventurar agora na produção musical, mas o gosto por discotecar é o que me move, a virada, o povo se acabando na pista e a troca de energia. Já me perguntaram se eu gostaria de dar aula de DJ para pessoas que não tivessem condições de pagar um curso em alguma comunidade carente ou em uma sala de aula. Gostei da ideia, seria uma maneira de passar um pouco do que aprendi e vivi em todos esses anos. Quem sabe? O futuro a Deus pertence. Obrigado pelo espaço cedido por vocês, até a próxima!
 
HM – Para finalizar, por favor indique as 5 tracks que mais marcaram a sua carreira.

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