O novo álbum do deadmau5 vem aí – esmiuçamos ele todinho em primeira mão!

Por: Rodrigo Airaf

Ser fã de um artista como deadmau5 e ter que criticar o trabalho dele é uma tarefa não muito agradável. Mas quando você tem em mãos seu último lançamento antes da maioria das pessoas, como tivemos aqui na House Mag, você entra no jogo. O primeiro play em um álbum que você estava aguardando há muito tempo dá mesmo aquela emoção, ainda que várias tracks já tenham aparecido na web ou em rádios como a BBC (o caso de 4Ware, a abre-alas). O álbum em questão é W:/2016ALBUM/, a ser lançado no dia 02 de dezembro, e contém 12 faixas, entre o seu chill-out tecnológico, seu electro retrô, seus quase-technos bem macumbeiros, seu trip-hop mais conceitual e sua alma house progressiva inabalável. 

 
1. 4ware

2. 2448
3. Cat Thruster
4. Deus Ex Machina
5. Gish
6. Imaginary Friends
7. Let Go (feat. Grabbitz)
8. No Problem
9. Snowcone
10. Three Pound Chicken Wing
11. Whelk Then
12. Let Go (feat. Grabbitz) (Extended Edit)
 
Do alto da sua honestidade, deadmau5 não poupou declarações sobre W:/2016ALBUM/. Foi uma experiência e tanto, aliás, ouvir o álbum pensando nessas declarações e, da posição de fã, fazer esforços para discordar. O mau5 causou certo barulho no Twitter dizendo que ele mesmo não curte o álbum. “Foi, tipo, tão apressado… amontoado”, disse, “pelo menos você não vai precisar sentar aqui e me aguentar fazendo propagandas constantes, ‘compre isso, o álbum saiu, compre aquilo, waaaah clique aqui’”. O rato estava, desde o princípio, relutante quanto a lançar este álbum, mas alguém o convenceu. O artista chegou a brincar (ou não) no Twitter quando um seguidor o perguntou por que o álbum será lançado se ele não gosta do trabalho que fez: “Porque eu tenho um monte de contas, porra”.

Deadmau5 é claramente um daqueles artistas cuja inspiração é uma musa que vem no seu tempo, e ele gosta de trabalhar no seu tempo também. Quem acompanhou o último ano do mau5, presenciou um momento em que ele estava em constante experimentação. Estamos falando de um dos maiores artistas de música eletrônica do mundo; a cobrança do mau5 sobre si e a sua visão sobre o próprio trabalho equivalem às dos gênios que vemos em filmes. Se Einstein falhou 99 vezes, como se sentiria então o deadmau5 mostrando ao mundo um trabalho que reúne 12 “tentativas”?

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Ouvindo W:/2016ALBUM/, entende-se o que ele disse e percebe-se que não, não é uma puta obra. Você não busca em suas memórias o incrível álbum duplo anterior, while(1, de 2014, e o 4×4=12, de 2010, e ouve W:/2016ALBUM/ pensando que este último é uma grande realização. O feeling de ser um álbum não é mais evidente agora; você não sente de cara uma conexão 100% harmoniosa naquela sequência de faixas, e o que chamamos de álbum poderia ser mais uma “compilação de alguns bagulhos que deadmau5 fez nos últimos dois anos”. 

Entretanto, enquanto deadmau5 prende-se ao formato de álbum para criticar o próprio trabalho, eu preferi ouvir W:/2016ALBUM/ como faixas separadas. E ouvindo faixa por faixa, está tudo muito longe de ser ruim. Existem músicas poderosíssimas ali dentro, em especial Let Go, uma jornada de quase 12 minutos com a ajuda dos vocais do Grabbitz onde deadmau5 explora uma sonoridade consideravelmente mais introspectiva; é como uma The Veldt menos uplifting. Não entendi a necessidade de uma versão mais curta desta faixa no álbum, pois o extended edit é perfeito.   

 
Let Go foi merecidamente lançada como single há cinco dias e acompanha um padrão de qualidade presente em outras faixas mais agitadas de W:/2016ALBUM/, como Imaginary Friends — aquela que você provavelmente já ouviu e que até o Alok ripou — e No Problem, que parece ser uma nova visão de uma outra música bem maravilhosa que nem está no álbum, a Saved — lançada como single em agosto e, posteriormente, na coletânea We Are Friends Vol. 5, no seu selo Mau5trap. Alguns timbres de Saved estão em No Problem. 

 


Snowcone
 e Whelk Then (ambas disponibilizadas há alguns meses) também estão entre as melhores músicas do álbum e chega a ser um alívio curtir muito algumas das faixas experimentais do deadmau5 — podem ser consideradas trip-hop, na real. Ele é um artista multifacetado musicalmente e, para mim, o melhor deadmau5 sempre será o dance melódico, mas Snowcone traz uma atmosfera que nos faz despertar e caminhar em outra direção após uma sequência do bom e velho mau5 em Imaginary Friends, Let Go e No Problem

Whelk Then é ainda mais primorosa e segue uma narrativa sonora muito bem-trabalhada, detalhista e digna da sensibilidade do Joel aos seus ânimos mais obscuros. Se pudéssemos anunciar a “poética” do atual deadmau5 em uma faixa do álbum, seria esta. 

 
A partir daqui, já não consigo mais esconder que a minha parte predileta de W:/2016ALBUM/ é a segunda metade, com a exceção de Three Pound Chicken Wing, música chatíssima e igual a quaisquer outros batidões que o mau5 tenha lançado nos últimos anos. A primeira parte do álbum é um pouco nebulosa, com faixas mais modestas como 2448, Deus Ex Machina e Glish — as duas últimas foram produzidas em 2014 em live streamings do Joel no estúdio — sendo o groove de Cat Thruster e a pegada clubber de 4Ware os salvadores da pátria. Por falar em Cat Thruster, a música que está no álbum é quase completamente diferente da Cat Thruster que saiu em maio. A base melódica é similar, mas o mau5 refez todo o resto.
 
No fim das contas, nosso bocudo favorito nos entrega um bom álbum com uma enxurrada de músicas boas mesmo que se cobre muito mais do que o normal. Só que os melhores tweets do deadmau5 sobre W:/2016ALBUM/ eu deixei por último: “Isso é realmente uma coisa de amor/ódio acontecendo aqui. Mas é uma coisa mesmo assim. E é bom estar fazendo coisas. Talvez seja a hora de apenas sentar e trabalhar nessa coisa fabulosa do ‘álbum que eu gosto’ que eu tenho querido fazer nos últimos 10 anos. Oh, não me leve a mal, eu adoro o ‘fazer’, isso para mim é tudo. Sou grato a todos os fãs que amam o que eu faço, 100%… isso é apenas eu sendo eu.”  

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