Em entrevista, Luiz Sala fala sobre carreira, agências, Vintage Culture, XXXperience e da dicas

Por: Lucas Portilho de Faria Cunha

Luiz Sala é deejay e produtor de trance psicodélico e de house music. Como produtor de eventos, foi responsável por fundar um dos festivais mais respeitados do país, a XXXperience, ao lado do Rica Amaral. Devido à sua grande bagagem na música eletrônica, atualmente Sala é booker de uma das maiores agências de DJs e produtores do país, a Entourage. DJ Feio, como é mais conhecido, conta, através desta entrevista, como foi a descoberta do talentoso Vintage Culture, expõe suas opiniões sobre o mercado e dá uma série de dicas valiosas para aqueles que estão começando o mergulho no mundo da música eletrônica. Confira:

 

HOUSE MAG – O que marcou a sua entrada no cenário artístico profissional da música eletrônica?

LUIZ SALA – Eu sempre gostei de música. Isso vem desde o meu avô por parte de pai, e depois a minha mãe me influenciou. Sempre tivemos um toca discos em casa.

HM – Hoje, profissionalmente, em que projetos e iniciativas está envolvido?

LS – Continuo tocando psytrance como DJ Feio, e estou com o projeto Salla, no qual eu caminho pelo que chamam de “low BPM” (deep house / bass / e tech-house).

HM – Hoje você trabalha na Entourage. Como se deu o convite para participar da agência?

LS – Na sou booker graças ao Rodrigo Moita (diretor junto com o Guga e o Marcelo). Ele me convidou para participar da equipe de vendas que ele criou dentro da agência.

HM – Como e quando conheceu Lukas Ruiz? Você imaginava que o projeto Vintage Culture iria fazer tanto sucesso? Como se deu o trabalho junto ao Vintage até a chegada do artista na Entourage?

LS – O Lukas é um cara iluminado, que surge na cena da música eletrônica de 100 em 100 anos (e olhe lá!) risos. Nos aproximamos com a ajuda de outros DJs que tocavam a sua música. Eu sempre perguntava quem era o autor, e me diziam: é o “Vintage Culture”. Na época eu tinha a Groove DJ Agency, que eu acabei chamando ele para fazer parte do casting, inclusive a Groove Delight fazia parte do casting. Agora, o que me deixa feliz é ter tido uma visão que ninguém teve: de enxergar que o estilo de som que ele produzia iria vingar no futuro. Eu podia ter me tornado manager dele ou qualquer outra coisa próxima (afim de ganhar dinheiro em cima da carreira dele), mas preferi deixar que ele mesmo seguisse seu próprio caminho.

HM – Quais foram os principais acertos na estratégia de carreira do Vintage Culture?

LS – Hoje em dia a Entourage cuida dessa estratégia com maestria. Na minha época, o planejamento era tentar vendê-lo aonde ele pudesse aparecer e levar a sua música para o conhecimento do público. As pessoas já conheciam algumas músicas produzidas por ele, mas, como eu no princípio, não sabia de quem era.

HM – O que motivou a mudança do nome artístico DJ Feio, para Salla?

LS – Foi uma questão de posicionamento no mercado e não deixar as pessoas confusas sobre qual tipo de som eu estaria tocando em uma apresetanção. Decidi adotar mais um “L” no meu sobrenome para atender essa necessidade.

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HM – Por ter uma bagagem vasta no mundo da música, tanto artisticamente quanto empresarialmente, qual é a sua leitura do cenário atual da música eletrônica nacional?

LS – Eu acho que o cenário ainda é muito novo e cheio de erros. Isto me anima muito a continuar nele para tentar fazer reformas e melhorias.

HM – Existe uma discussão muito forte por parte da mídia e de alguns organizadores de eventos sobre “redução de danos”. Na sua opinião: o que está sendo feito efetivamente pelo bem estar do público que frequenta grandes festivais?

LS –  Eu acho que as melhorias só virão com a participação de grandes patrocinadores. Você pode ver que quando a festa é boa, é porque estava bem calçada financeiramente, lógico que existem exceções, mas no geral é isso.

HM – Ao seu ver, com a ascensão da EDM e de outros gêneros “low BPM”, os gêneros musicais “high BPM” estão perdendo espaço ou estão se reinventando?

LS – Na verdade, o que aconteceu foi uma explosão sem precedentes do “high BPM” com a descoberta do gênero no Brasil. No entanto, ele nunca deixou de existir no nosso país. Muitas festas e clubs ainda estão dando espaço. É um ciclo, e isso acontecerá com os outros gêneros da música eletrônica. Inclusive… eu brinco dizendo que: a água não faz mal, mas se você bebe muito dela, você se afoga e morre.

HM – Você tem acompanhado o cenário psicodélico da música eletrônica? Quais são os destaques do cenário psicodélico brasileiro hoje em dia? Isto incluíndo gravadoras, festivais e artistas.

LS – Olha… está tudo bem sedimentado hoje em dia. Mas vejo a ‘DM7’ e a ‘Season’ como as principais agências do gênero [psicodélico] no mercado. Consequentemente, os melhores artistas estão com eles. Gosto de alguns como o Vegas, Special M, Marco Element, Mandragora e por aí vai. No entanto, tem uma moçada “comendo pelas beiradas” e me agradando muito hoje em dia, como: Ground Bass, Syntatic, Vermont, 8Thsin, Audio X (que é das antigas, mas voltou tocando no Tomorrowland Brasil há um ano), DZP.E e outros que, inclusive, me apoiaram com as suas músicas.

HM – Por ser um artista experiente, gostaríamos de saber a sua opinião sobre o crescente uso de toca discos nas apresentações de DJs ao redor do mundo. É mais uma questão de feeling? Ou qualidade musical?

LS – Eu passei por isso, pois eu tocava com vinil, fui para o CD (que continuo até hoje) e quase me crucificaram por essa mudança. Enfim. Voltar para o vinil seria encarado como algo retrô. Para quem nunca viu, é legal assistir alguém tocando com discos, mas eu, particularmente, não voltaria a tocar com eles por não termos no Brasil lojas uma boa variedade de lançamentos como no exterior, além dos valores serem muito altos.

HM – Não são raras as vezes que lemos comentários nas redes sociais de que muitos artistas têm se apoiado no marketing para crescer profissionalmente. Qual é o seu ponto de vista sobre isso?

LS – Existe a tal da rede social, que está aí para ser usada. Quanto mais pessoas estiverem conectadas umas às outras, mais apoio os artistas terão. No entanto, estarão bem mais expostos mostrando o que fazem, correndo o risco da aceitação ou da rejeição. A famosa: ‘faca de dois gumes’. Mas eu acho válido sim! Ainda mais pelo fato da existência de empresas que cuidam exclusivamente disso [marketing]. Estas são muito caras devido ao trabalho individual que organizações exercem, um atendimento praticamente exclusivo com cada artista. Como dizem por aí “a união faz a força!”.

HM – O que podemos esperar do DJ Salla para os próximos anos?

LS – Eu brinco dizendo que sou um DJ 100%. Não produzo muita música, mas as que eu faço são sempre bem vendidas. Mas, para o meu sucesso, sempre preciso de um auxílio de uma pessoa para compormos juntos. Atualmente eu tenho colaborações com: Wolf Player, Caique Carvalho, Rocca, Raone (Sugar Hill), Gestalt, entre outros. E, apesar da minha idade, sempre tento estar na vanguarda! Como deejay, fazendo sempre sets atuais e bombásticos, além de evoluir cada vez mais nas composições, cuidando, sempre, do meu ouvido e audição absoluta no intuito de orientar o meu parceiro musical.

HM – Mande um recado para quem está começando a se apaixonar pela música eletrônica, seja como artista, seja como apreciador.

LS – O caminho é duro, mas não é impossível. Tente tocar na sua região no começo, mas nunca de graça. Cobre, pois o respeito pela profissão começa exatamente aí. Paciência é a palavra certa, por isso comece cedo e dê tempo ao tempo. Não se ingesse na música eletrônica. Vá se divertir! Fazer um esporte por exemplo. Porque dá para conciliar várias coisas. Faça amigos reais, porque nessa cena, o que mais tem é gente falsa, que bate nas suas costas quando você é famoso e é ‘top’, até vir o próximo… aí já viu: bye, bye amizade. Tente conhecer melhor os locais onde você passa (havendo tempo, lógico)! Porque isso irá enriquecer o seu conhecimento. E por falar em conhecimento…. Aprenda a fazer música, mas aprenda também inglês, se forme! Não seja um artista burro, converta esse conhecimento em outras coisas, e não só dance music. Faça jingles, trilhas sonoras, etc, etc e etc. Por último, ‘nunca deixe a e-music subir na sua cabeça’, porque na real: para o Brasil e o mundo você não é nada se comparado aos verdadeiros artistas. Pense que você é só mais um carinha que toca em uma CDJ, ou no computador com synths ligados (permitindo, assim, mixagens mais fáceis) às músicas dos outros artistas, ou as suas próprias músicas, que, inclusive, nem sempre estão tão bem produzidas e até com uma qualidade sonora péssima. Então fique esperto, porque do mesmo jeito que você está lá em cima no “top”, no dia seguinte você pode estar lá em baixo na sarjeta e, nesse momento, ninguém irá querer te ajudar. Tenha certeza disto!


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