VIRGINIA explica com exclusividade a produção do seu live, fala das raízes brasileiras e mais!

Por: Gabriela Loschi
Tradução: Flávio Lerner

Além de talentosíssima DJ e uma produtora de sensibildade musical singular – qualidades que a levaram a ser uma das grandes estrelas da Ostgut Ton (sim, o todo poderoso e super seletivo label do Berghain) -, ela é dona de uma voz de seda inconfundível e de uma grande vocação para escrever suas próprias músicas. Nascida e criada em Munique, Virginia vive em Berlim e tem um carinho grande pelo Brasil, já que sua mãe é brasileira. Parte da sua famíiia mora no Rio, onde ela se apresentou ano passado. Mas foi na Alemanha e em meio à madura cena do país germânico que seu desenvolvimento artístico aconteceu. Lançou hits nos anos 90, foi residente do club Flokati do Tobi Neumann e do pioneiro Cocoon do Sven Vath, em Frankfurt. Suas apresentações são sempre lotadas de uma energia especial e influências que passeiam pelas tracks analógicas dos anos 80 e 90 até as texturas atuais, seja live, com sua banda, seja discotecando.

Por todos esse fatores, há um bom tempo eu queria entrevistá-la e finalmemte esse dia chegou. Apesar das raras aparições em imprensa, Virgínia Nascimento – nome brasileiríssimo que ela utilizava em assinaturas de outros projetos – abriu uma exceção e falou com a gente por email, no avião, em meio à sua viagem de vinda ao Brasil, HOJE, para uma apresentação no Club Vibe, em Curitiba, e sábado, 5 de novembro, na Capslock em São Paulo. Amável e muito agradável, apesar do tempo escasso, Virginia respondeu às seis perguntas enviadas – mas é claro que a vontade era ficar frente a frente com ela e fazer umas 20, rs, o que seria impossível devido às circunsâncias. 

Obrigada Virgínia, e seja bem vinda novamente ao Brasil :)


HOUSE MAG – Olá Virginia, é um prazer falar com você! Você diria que seu novo álbum, Fierce for the Night, que também é seu primeiro LP pela Ostgut Ton, é um resumo de sua sólida carreira? Ou seria mais um espelho do seu momento atual? Ele é soulful, como o Twisted Mind, feito há oito anos com o Steve B-Zet, mas leva influências diferentes, de elementos de electropop a belas melodias emocionais. O Fierce… foi feito com seus colegas Steffi, Dexter e Martyn. Quão confortável você se sente produzindo com artistas diferentes, mesmo que próximos, incorporando as interpretações deles no seu trabalho? Por favor, nos conte um pouco sobre esse processo criativo em ambos os casos, e se você mudou sua abordagem musical.

VIRGINIA – Olá, prazer em conhecê-la. Com o Fierce for the Night eu quis combinar os dois corações que batiam no meu peito: o de artista live e o de DJ, para escrever música que funcione na pista de dança, sem remixes, mas também em um contexto de banda. Foi muito divertido tocar nesse verão com a Steffi e o Dexter.

Pra trabalhar em conjunto, você precisa se desprender do seu próprio ego. Eu amo a música desses três artistas e estava curiosa em saber como um mix de todos esses “sabores” soaria. Somos bons amigos e foi uma ótima experiência fazer isso funcionar, especialmente pelo fato de não morarmos no mesmo país. E claro, você encontra alguns atritos durante um processo de produção desses, não é superfácil, mas acho que tudo isso faz parte da criação. No final, a música fala por si. Estamos todos muito felizes e orgulhosos do que produzimos.

14595707_10154712282554729_4837459649120053209_n_500


HOUSE MAG – Sua profunda conexão com a Steffi e o Dexter é percebida nos shows ao vivo. Quanto tempo levou pra construir esse live? Conte-nos sobre seus elementos e como foi o seu preparo até chegar ao ponto em que você achou que estava pronto pra pegar a estrada. 
E por quanto tempo você pretende manter esse projeto?

VIRGINIA – É ótimo ouvir isso, obrigada. Primeiramente, precisávamos definir quem faria o que no palco. Quanto equipamento poderíamos levar ao passar pelo check in, de modo que nada se perdesse? Qual o melhor setup pra evitar ao máximo problemas técnicos? Bem, obviamente eu cantaria. Decidimos que seria melhor se o Dexter tocasse a bateria, as cordas os teclados ao vivo. A Steffi operava o “cérebro” do show com o Ableton, fazendo também os backing vocals e vocoder — o que me deixou muito feliz, porque amo o timbre dela.

Depois que todo mundo sabia sua posição, pensamos na playlist. Sentimos que funcionaria melhor se mantivéssemos a música rolando, sem pausas durante elas, mas você não pode simplesmente trocar de uma para outra; a próxima canção pode ser mais rápida, devagar ou estar em outro tom. Assim, escrevemos loops de transição, pra construir pontes entre elas. Basicamente, compusemos novas faixas durante os ensaios, o que levou um tempinho extra. Acho que ficamos 12 dias de manhã até tarde da noite pra montar esse live. A turnê oficial do Fierce for the Night está finalizada e não temos mais shows planejados. Com certeza, vou fazer novas músicas com a Steffi, o Martyn e o Dexter. Cada um deles está agora focando nos seus projetos solo, que eles haviam adiado pra focar no trabalho comigo.


HM – Recentemente, você tocou no Rio de Janeiro. Eu infelizmente não pude ir, mas ouvi que foi uma gig muito especial. Fazia bastante tempo que você não visitava o Brasil, não é mesmo? Conte-nos sobre essa gig — como foi tocar pela primeira vez na cidade onde sua família brasileira vive?

VIRGINIA – Foi uma noite muito especial, com uma grande plateia. Um amigo em comum me apresentou à organizadora da festa — uma moça muito simpática que também estará na Capslock no sábado! Dois dias depois eu mostrei pra minha vó o meu vídeo cantando “Yours” naquela noite. Dava pra ouvir a galera vibrando, o que deixou ela muito orgulhosa.


HM – Embora você tenha uma base brasileira pelo lado da sua mãe e use o nome Virginia Nascimento, que é bem brasileiro, você nasceu em Munique e foi muito influenciada pela madura cultura eletrônica da Alemanha. Mas temos curiosidade em saber: o Brasil te influenciou de alguma forma? Como você sente a nossa cultura, o que sabe sobre nossa cena e quais as suas conexões com o país?

VIRGINIA – Mesmo sem ter nunca vivido no Brasil, essas raízes realmente me influenciaram. Infelizmente, em algum momento minha mãe parou de falar português comigo, então não domino bem a língua, mas toda vez que eu vou aí eu consigo ver o quanto da mentalidade local ela conseguiu me transmitir. Claro que me criei em meio às culturas clubbers da Alemanha e da Europa, mas o amor pela percussão, pelo ritmo e pela dança é definitivamente parte do meu lado brasileiro. Estou sempre ansiosa em voltar, aprender mais sobre a cultura e fazer novos amigos.

virg_500


HM – Já vi você tocando em clubs sozinha, com a Steffi e também tive a sorte de ver sua banda no Sónar Barcelona. Formatos diferentes, mas o mesmo touching e a mesma energia. O que o público pode esperar dessa vez no Brasil? Você está empolgada em voltar pra São Paulo e tocar na Capslock? 
Teve algum contato anterior com o Paulo Tessuto?

VIRGINIA – Eu e o Paulo já nos encontramos algumas vezes na Europa — até tocamos na mesma festa uma vez. Ele me falou sobre a Capslock e que queria me convidar um dia. Estou realmente animada que rolou e em reencontrar ele. O que esperar? Diversão!


HM – Poderia indicar cinco artistas-chave que lhe influenciaram e foram importantes para o seu desenvolvimento artístico através dos tempos? Obrigada pelo seu tempo, Virginia. 
Faça um voo seguro para o Brasil! :)

VIRGINIA – SADE, Tracy Chapman, Underworld, Prince e Moloko. Muito obrigada a você e até sábado!

Fique por dentro