Por que algumas pessoas não curtem techno? A Ciência tenta explicar

Por: Rodrigo Airaf

Quem curte techno já está acostumado a receber olhares tortos quando tenta apresentar o gênero a alguns amigos. Dependendo do estilo tocado por um DJ techno, as faixas podem ser consideradas repetitivas, insípidas ou com pouco groove. De fato o techno não é — e não tem intenção de ser — um gênero palatável para todo mundo, mas se a vertente é conhecida por seu groove, por que o som parece ser tão difícil para algumas pessoas sintirem vontade de dançá-lo? É isso o que estudiosos da instituição americana Public Library of Science tentam explicar.

Para entender o estudo comandado pelos pesquisadores Alex Hoffmann e Brian C. Wesolowski, deve-se entender seu objetivo: testar se existe relação entre a forma como alguém percebe e é afetado por uma “música baseada em groove”, sendo o groove uma “agradável sensação de querer se mover com a música” ou “uma satisfação e divertimento em apreciar uma estética rítmica de um estilo de música”.

O experimento teve ajuda de 99 universitários entre 18-24 anos, sendo 63 homens e 36 mulheres. Eles foram convidados a avaliar samples de músicas de 11 diferentes vertentes da música eletrônica, enquanto suas reações cognitivas, afetivas e psicomotoras eram documentadas. Entre essas 11 vertentes, encontravam-se as seguintes características: a) linhas de baixo isócronas (isto é, em intervalos de tempo iguais) e timbres estáticos; b) linhas de baixo isócronas com dinâmica oscilante e variações rítmicas nas frequências médias; c) linhas de baixo não isócronas e timbres oscilantes; e d) linhas de baixo não-isócronas com variações rítmicas nas frequências altas.

A cada sample ouvido, o participante deveria avaliar se essa música o faz querer dançar, em uma escala de 1 a 4, sendo 1 “discordo veementemente” e 4 “concordo veementemente”. As reações psicomotoras foram gravadas também para avaliar a música com base em: a) “esse som me faz querer batucar os pés”; b) “esse som me faz querer mexer a cabeça”: e c) “esse sample me faz querer dançar”.

 
 
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Nos resultados, os dados agrupados sobre o electro house, o progressive house e o drum n bass (área verde) indicam que estas são as vertentes mais “dançáveis”. Abaixo disso, o deep house, o house, o tech house (área cinza) e o dubstep (área rosa). Na área preta, o techno e as vertentes chill out acabam como os estilos “menos dançáveis”.

Segundo a fonte, os pesquisadores sugerem a hipótese de que as vertentes da área verde (drum n bass, electro house, progressive house) evocam uma resposta emocional poderosa pois os ouvintes estariam expostos a uma estrutura mais complexa’. A estrutura, de acordo com a pesquisa, supostamente mais previsível do techno, com um bass isocrônico, não agrada às pessoas que anseiam pelo drop.

Deve-se levar em conta que música é algo difícil de mensurar desta maneira quando o gosto musical é subjetivo. O techno é um vasto mundo com vários estilos de som, e uma pesquisa de “termômetro de groove” também está sujeita a interpretações pessoais. Ainda que a pesquisa seja válida para tentar entender o que faz alguém querer dançar, a mesma não vale necessariamente para determinar a qualidade de uma música. 

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