Entrevista exclusiva com Derrick Boyd: Tone Of Arc em nova fase

Por: Nazen Carneiro
Fotos: Micah Weiss 

É sempre uma oportunidade de aprendizado poder entrar um pouco no cotidiano e no que rola na mente dos músicos, especialmente quando se fala de uma figura como Derrick Boyd, um cara super talentoso. Seu principal projeto, Tone Of Arc, traz musicalidade original à cena underground techno, house, punk, funk e anos 80, além de inúmeros estilos inomináveis. Ele é tipo um Frank Zappa de expressões coloridas. Tone Of Arc é algo raro, único e que agrega muita experiência de vida aos palcos, com muito baixo, guitarra e vocais elaborados.

O artista passou por grandes mudanças recentemente e encontrou nelas um caminho para se encher de energia e não o contrário. Inspirado, Derrick tirou um tempinho para bater um papo – logo que voltou do Burning Man – com Nazen Carneiro, da Coluna Tudobeatsem uma entrevista exclusiva para a House Mag!

 

HOUSE MAG – Derrick, primeiro obrigado por aceitar esta entrevista para a coluna Tudobeats na House Mag. Eu sempre pergunto para os artistas o que eles tem ouvido no carro, pois acho um lugar muito particular, onde podem estar as mais diversas influências. Conta pra gente umas cinco músicas da sua playlist, por gentileza.

DARRICK BOYD –  Grand Masster Flash, “White lines”.
Bow Wow Wow, “Go wild in the Country“.
Royksopp & Robyn, “Monument“.
Massive Attach, “Paradise Circus
Gui Boratto Remix – Talking Heads, “This must be the place”.

HOUSE MAG – Cite alguns artistas atuais que você admira.

DB – Eu não curto muito citar nomes assim, deixar cair tipo um sanduíche mole num domingo, então vou apenas citar alguns nomes aqui. Eles são o que eles são. Eu gosto da música deles. Red Axes, Psychmagik, WhoMadeWho, Matthew Deer, In flagrante, Pattern Drama, Nav Izadi, Jonny Cruz, Pillowtalk, Dance Spirit, e Mock n Toof.

HOUSE MAG – E fora do “mundo eletrônico”?

DB – Eu pessoalmente não ouço música a não ser que eu esteja no carro. Se eu quero ouvir música eu mesmo faço o que eu quero ouvir do nada e me divirto muito mais assim. Caraca, como eu gosto de ouvir música que eu nunca ouvi! Para mim, enquanto músico e produtor, quando ouço uma música é como se estivesse assistindo a um filme novamente e já sei o final. Eu curto mesmo as primeiras vezes. Aquela primeira vez que você ouve e ouve de volta e de volta. Wow! Mas aí eu acabo esquecendo os nomes pois são difíceis de pronunciar ou porque são tão ruins mesmo e eu prefiro esquecer. Eu fico puto com a maioria destes nomes de hoje. Juro que se eu ver mais um deste que imitam nomes famosos, vou cavar um buraco e ficar nele! haha

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Tone of Arc no Warung

HOUSE MAG – Seja morando na região do Lago Tahoe ou em São Francisco, o que mais te influenciou?

DB – Cara, que pergunta difícil! Uma de minhas maiores influências na cidade das Montanhas (Lake Tahoe) foi Lance Desardi aka Land Shark, há muito tempo atrás. Minhas influências vêm de tudo dos anos 80, analog, acid, rock, tech e muito mais. Não consigo nominar sempre as minhas inspirações, mas sei como eu as sinto quando ouço a boa música. Sinto algo como: “gosto disto mas quero fazer do meu jeito”. Hoje o que mais me influencia é ficar apaixonado, decepções, O Criador, também conhecido “Universo”, meus amigos, fãs e minha família. Todas estas coisas, quando alinhadas, me dão as ideias e o poder que eu preciso para impresisonar meu pior crítico: Eu mesmo!

HOUSE MAG – Quando o seu amor pela música se tornou também algo que você faz para viver?

DB – Para viver? Quero muito conseguir viver disto algum dia! rs Eu comecei a levar a sério quando eu tinha 22 anos, em 2002. Até 2012 ninguém com um status relevante havia descoberto meu talento – e na época eu já mostrava o melhor de mim. Eu já tinha `bons ouvidos` e sabia onde procurar, então mantive a busca árdua e me permiti conseguir mais com menos.

HOUSE MAG – Você tem viajado o mundo apresentando o “Tone of Arc” com sucesso. O que destacaria nesta experiência?

DB – O grande destaque é viajar, cantar e discotecar para públicos, sejam grandes ou pequenos. Eu amo o que faço, não importa onde estou. Eu já estive em tudo quanto é lugar e é sempre assim. A música é o que une um tipo especial de pessoa. O local é apenas um local. Qualquer lugar é o lar e há famílias de irmãos espirituais, todos crescendo da mesma forma em qualquer lugar onde você possa ter um raver. Então eu destacaria a importância de fazer novos amigos dentre estas pessoas, e cantar para elas minhas novas músicas que nunca ninguém ouviu. “Ouvidos novos” são os melhores.

HOUSE MAG – Desde a época da gravadora “No.19 Music” até agora na “Om Records”, o que mudou mais?

DB – Minha atitude. Hoje sou menos egoísta. Ainda tenho ego mas tenho ficado mais humilde devido às dificuldades que tive que encarar através dos anos. Os “negativos” sempre são “positivos” para mim e agora os “positivos” são ainda mais positivos. Eu estou vencendo e não posso mais perder, pois eu agora compreendo a grande lição de acreditar no SIM da minha vida e encarar a tudo. Os negativos apenas corrigem meu caminho e eu os recebo bem, com amor e olho aberto. Assim eu também trabalho com as labels; eu os recebo bem, com amor e olho aberto rsrs

HOUSE MAG – Com a sua separação conjugal veio também a mudança no Tone Of Arc, que agora é um projeto solo seu. O que muda?

DB – Quase nada, exceto que a Zoe não está lá. O poder da performance está melhorando cada vez mais, ficando mais envolvente. Eu pretendo iniciar trabalhos com mais músicos, o que na verdade estava nos planos desde o primeiro dia. Estar solteiro com certeza altera a energia da apresentação. Tem um tipo de essência mais palpável, tipo um flerte de novo romance que agora guia minha energia.

HOUSE MAG – Com tantas mudanças na vida pessoal, quais os próximos passos na carreira?

DB – Um dia de cada vez. Eu quase desisti da música há alguns meses. Perdi a esperança e acabei destruindo meu estúdio, mas era o Universo que estava tentando me corrigir. Na época, eu pensei que a mensagem era para eu parar com a música, já que não gostava mais tanto do que eu fazia. Eu não estava fluindo e inspirado. O Universo queria que eu fizesse diferente. Agora eu entendi e estou no flow correto. Minhas distrações são somente minhas ;)

HOUSE MAG – Eu considero que Tone of Arc tem algo como visionário. Concorda?

DB – Deixo estas palavras para outros dizerem. Posso apenas orar para que as pessoas me tenham nesta luz. Isso me ajuda a melhorar o que faço.

HOUSE MAG – Quais projetos podemos aguardar dos próximos movimentos de Derrick Boyd?

DB – Tem alguns produtores e vocalistas que espero colaborar nos próximos projetos, os quais prefiro não citar agora. Acho melhor guardar detalhes até que o trabalho esteja concluído. Estou começando a trabalhar no meu terceiro LP e encontrar abrigo para um trabalho realmente original não é tão fácil quanto parece. Se eu tivesse grana e paciência o bastante para construir uma label apropriadamente, eu o faria. Mas tudo em seu tempo, as coiasas vão acontecer.

HOUSE MAG – É muito difícil para um artista alcançar identidade própria para sua música, algo que você tem. Como você a descreve?

DB – Oh boy, veja bem que existem muitas músicas minhas que ninguém conhece e cada uma delas soa de forma completamente diferente, com atitude e estilo de produção diferentes entre si. Então, quero dizer que, existem diversos `personagens` que tenho para cada sub gênero.

HOUSE MAG – Você acha que a sua música é percebida no Brasil da mesma forma que é em outros países? Como é isso?

DB – As pessoas entendem no Brasil assim como entendem na Rússia ou na Ucrânia, ou seja, com um nível de entusiasmo que você não vê em nenhum outro lugar. As pessoas estão obviamente abertas para a originalidade. Não temem se aventurar pelo desconhecido. É este senso de aventura que contribui para que minhas apresentações sejam melhores e mais impactantes, com mais energia.

HOUSE MAG – É sempre um prazer conversar contigo, uma conversa muito rica! Para finalizar, te pergunto: O que vem por aí com Tone Of Arc?

DB – Caraca, eu não sei dizer. Estou vivendo o presente e é melhor dizer que vai acontecer aqui, pois não quero estar em outro lugar. O que rolar vai rolar com muita vida amor, muito amor e mais amor.

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