Uma questão de Tempoo: confira o faixa a faixa do novo álbum do Vegas

Por redação

Foto de abertura: Dilson Ferreira

Durante a pandemia nos vimos muitas vezes encurralados no isolamento social, distantes de tudo que nos fazia brilhar os olhos ou que o que já fazia parte da nossa rotina. Mas, em comum, muitos se perguntaram o que tinham agora, neste momento, e o que não tinham antes? A resposta, tempo.

Vegas, um dos maiores nomes do psytrance nacional, está dentro deste grupo e aproveitou o período para canalizar os sentimentos deste hiato forçado dos fãs e dos palcos em música e arte. E assim surgiu o seu terceiro álbum, “Tempoo”, totalmente produzido durante a pandemia e com uma forte mensagem de resiliência. “As músicas desse álbum representam vários sentimentos, várias emoções. No fim achei o que eu estava procurando dentro de mim mesmo”, ressalta o produtor.

vegas__crdito_dilson_ferreira_4_500
Foto: Dilson Ferreira

São nove tracks inéditas, sendo dois remixes, um com o brasileiro Lasmar e outro com os israelenses do Rising Dust, além de uma colaboração com o amigo de longa data Grynder. “Um álbum construído aproveitando ao máximo cada segundo do dia, despretensiosamente, permitindo-se desfrutar do tempo que jogava ao seu favor”, afirma.

Com exclusividade para a House Mag, Vegas fez um faixa a faixa completo descrevendo seu novo álbum “Tempoo”, que conta, também, com um clipe inédito produzido no Camping Canyons dos Espraiados, em Urubuci, Santa Catarina, e que revela o mundo pelos olhos de um cego. Emocionante, inclusive!

Play!

1 – “Tempoo”

O tempo foi o fator principal para a criação deste meu terceiro álbum, a faixa-título e a ‘intro’ do álbum falam sobre a complexidade do tempo. Por ele ser incontrolável, acaba se tornando algo misterioso para todos nós.

Durante o período de março de 2020 até meados de agosto de 2022, passamos pelo confinamento de uma pandemia global, no qual fiquei isolado dentro da minha casa. Após alguns meses de descanso, vieram insights deste período de reclusão e minhas maiores reflexões eram sobre o tempo. “Quanto tempo isso vai durar?”, “se eu pudesse voltar no tempo, aproveitaria mais aqueles momentos”, “o que eu vou fazer com este tempo livre?”.

Em um piscar de olhos, nossa vida mudou completamente, eu tive que abdicar de muitas coisas do meu cotidiano. Mas quando se pratica a resiliência, o exercício mental é tentar tirar algo de positivo de situação complicadas. E, depois de alguns meses e de muita reflexão, eu parei de lamentar o que eu tinha perdido, ou deixado de ganhar durante todos estes meses parado, e eu perguntei a mim mesmo: “o que eu tenho agora, que eu não tinha antes? A resposta era tempo!”.

Todos nós podemos usar o tempo ao nosso favor, mas apenas de uma maneira, através do agora. Os meses de produção deste álbum não foram apenas para gastar o tempo disponível, eu desfrutei o agora, sem a certeza do amanhã e sem a pressão do que aconteceu ontem. Busquei expressar meus sentimentos que estavam presos dentro de mim, que nem eu mesmo sabia que existiam, pois eu não tinha mais tempo para alimentá-los.

“O tempo é o agora, porque o futuro nós não sabemos, e o que você acabou de ler, já é passado”.

2 – “5 pras 5”

No último ajuste da composição desta obra, eu falei a tão satisfatória palavra: “terminei”. Olhei para o relógio do estúdio e ele marcava 16h55. Eu estava descobrindo como lidar com o tempo. O início do confinamento foi cheio de dúvidas e momentos de muita tensão.

5 pras 5” expressa este sentimento através das suas linhas melódicas carregadas de tensão com uma estrutura cheia de surpresas e variáveis.

3 – “Tiempow”

Brincando novamente com os trocadilhos nos nomes das obras, “Tiempow” foi inspirada na série “La Casa de Papel”. As séries foram protagonistas na minha forma de lidar com o tempo durante a pandemia, eu diria que uma boa distração e ainda me serviu de inspiração. A obra carrega consigo a euforia e agressividade, com as linhas de baixos e synths ácidos e, ao mesmo tempo, com uma reflexão do personagem Berlim sobre o tempo.

4 – “Blow” (Remix)

O golpe. O remix para o duo israelense Rising Dust representa a resiliência. A saudade dos palcos foi apertando mês após mês, a distância daquilo que amamos fazer só aumentava, um golpe duro na minha vida. Encontrei nesta canção a forma de expressar minha resiliência.

De uma forma melancólica e progredindo para synths mais lineares, por fim chegando em seu break principal com ápice na revelação da linda melodia da dupla que sempre me arranca um sorriso, não importa quantas vezes eu ouça.

5 – “Cosmic Silence”

A importância do silêncio. Somente quando o mundo parou eu pude também parar e apreciar o silêncio, e foi no silêncio que refleti e me inspirei em muitas coisas.

“Cosmic Silence” fala de maneira conspiratória sobre a tentativa de contatos com seres de outras dimensões e a espera infinita por respostas em um maravilhoso silencio cósmico.

6 – “My Brother” (Remix)

O remix para o jovem talento brasileiro Lasmar é uma homenagem aos meus amigos que no momento da quarentena tiveram minha presença física novamente. Com as viagens e a vida corrida, minha ausência com meus verdadeiros amigos era frequente. Neste período eu pude me reunir com os bons e verdadeiros amigos e desfrutar do agora, gastar meu tempo com eles.

“My Brother” eu dedico às verdadeiras amizades, não somente aos meus amigos, mas a todas as irmandades do mundo.

7 – “Watercolor”

Essa faixa é tão significativa que a escolhemos para a produção do videoclipe do álbum. A faixa é em colaboração com meu velho amigo Grynder. Com o fator tempo disponível ao nosso ao nosso favor, tivemos várias sessões de estúdio e, em uma delas, saiu esta música tão importante para nós. É mais do que uma obra musical, traz consigo uma reflexão sobre a vida e como um cego “enxerga as cores do mundo”. É puro sentimento, com linhas melódicas somadas à linda letra e voz do canadense Igor Ogro.

8 – “Sometimes We Cry”

As lágrimas fizeram parte da história da composição deste álbum. De maneira explícita, esta obra fala sobre estar tudo bem chorar. Com uma atmosfera melancólica, grooves mais calmos e synths suaves, foi a última track do álbum a ser produzida. As sessões de estúdio foram momentos de contemplação do que foi criado, ele estava pronto, desfrutei do momento.

9 – “Silent Flight”

Todo o álbum foi produzido em segredo, poucas pessoas sabiam do seu processo de composição. Até mesmo pessoas próximas a mim tiveram acesso as obras apenas quando estava tudo pronto, foram meses voando silenciosamente, como uma coruja.

A coruja representa a sabedoria e a ampulheta o tempo. Usar o tempo com sabedoria, é desfrutar do agora.

Nada está ali por acaso.

Saiba mais sobre o Vegas

Nesses mais de 10 anos de carreira, sua música extrapolou a cena trance e alcançou grandes festivais multi sonoros, como o Rock in Rio e Planeta Brasil. Figurando entre os artistas de música eletrônica mais ouvidos do país no Spotify, Vegas aka Paulo Vilela foi além, e chegou aos tablados da ginástica rítmica no pan-americano em 2019, recebendo medalha de ouro, e nas Olimpíadas do Japão, em 2020, assinando a trilha sonora da Seleção Brasileira. Com três álbuns lançados, “Good Things”, “Caixa Mágica” e “Tempoo”, Vegas comanda a sua própria gravadora, Synk87, ao lado de Waio e Vitor Falabella, e se apresenta em turnês pelo Brasil e no exterior, com passagens pela América do Norte, Ásia e Europa.

Fique por dentro